Presidente da Funai diz que não questionou direito à terra de índios

13/01/2006 - 17h16

Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes, negou hoje (13), por meio de nota, que tenha questionado o direito à terra dos indígenas brasileiros. No texto divulgado à imprensa, a Funai diz que o "equívoco" foi propagado "em razão de interpretações sensacionalistas". De acordo com matéria publicada pela agência de notícias internacional Reuters, Gomes teria afirmado que os "índios têm terra demais".

A suposta fala de Gomes gerou reações de entidades que trabalham com a causa indígena. Para o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), entidade ligada à igreja católica, o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes, assumiu "o discurso dos fazendeiros". Para o vice-presidente do Cimi, Saulo Feitosa, "isso revela o atrelamento de Mércio Gomes e do governo Lula ao agronegócio e às antigas oligarquias rurais do país".

A nota da Funai , assinada pela Coordenação Geral de Assuntos Externos da Fundação, destaca que Gomes "vê como motivo de orgulho nacional o fato de o Brasil ter praticamente 12,5% de seu território constituído por terras indígenas e, por essa razão, considera o país exemplar no resgate de uma dívida histórica para com sua população de origem".

A idéia de limitação, em cada estado, da extensão das terras destinadas aos índios está presente na proposta de emenda constitucional (PEC) de autoria do senador Mozarildo Cavalcanti, em tramitação no Senado Federal.

Na última quinta-feira (11), o Cimi divulgou dados apontando que 2005 foi o ano com maior número de assassinatos de indígenas na última década, com 38 mortes. O presidente da Funai questionou o fato de entidades apontarem a política indigenista brasileira como responsável pelas mortes. Segundo ele, grande parte dos casos citados no levantamento do Cimi é de conflitos internos entre os próprios índios.

Há um mês, o povo guarani-kaiowá está abrigado em barracos na beira da estrada – que liga a cidade de Antonio João a Bela Vista (MS). No dia 15, eles foram despejados, por ordem do Supremo Tribunal Federal, das terras que já haviam sido homologadas pelo presidente da República. A Funai afirma tentar alocar um terreno para os mais de 500 índios.

Após o despejo, o índio Dorvalino da Rocha, de 40 anos, foi assassinado a queima-roupa. Uma criança guarani-kaiowá morreu de desnutrição e 15 quinze crianças estão doentes. Sem terras para plantar, o povo indígena sobrevive de cestas básicas e água fornecidas pela Fundação Nacional da Saúde (Funasa).