Medo de despejo causa tensão em acampamento de sem-teto em SP, diz integrante de movimento

13/01/2006 - 18h15

Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Permanece ainda sem solução a definição sobre o despejo de cerca de 860 famílias de sem-teto, que há quatro meses ocupam uma área de 80 metros quadrados no Jardim Helena, bairro do município paulista de Taboão da Serra. O local foi batizado de Comunidade Chico Mendes.

Sob as lonas e cubículos de madeira, improvisados de moradia, os sem-teto dizem ter medo de que a qualquer momento surja um oficial de justiça para cumprir a determinação da juíza Daniela Cláudia Herrera Ximenes, da 2ª Vara Cível de Taboão da Serra, de reintegração de posse do terreno, pertencente à empresa do setor da construção civil.

Nesta manhã, houve uma nova tentativa de diálogo com a prefeitura, para que fosse ampliada a ajuda aos sem-teto por meio uma bolsa-aluguel no valor de R$ 250,00. De acordo com um dos coordenadores do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, a secretária municipal de Habitação, Ângela Amaral, manteve a proposta de limitar o atendimento a cem famílias.

"Mas nós precisamos que pelo menos o dobro disso seja pago porque há 200 famílias que não terão para onde ir, caso se cumpra a determinação judicial", justificou Boulos.

Ele disse ter conversado, por telefone, com a secretária Nacional da Habitação, Inês Magalhães, e a quem solicitou que o governo federal assuma o pagamento da bolsa-aluguel para cem famílias, complementando o que falta. Boulos explicou que, apesar da carência atingir a todos os acampados, alguns deles podem voltar para suas antigas moradias, localizadas "em áreas de riscos ou em condições muito mais precárias do que onde estão hoje".

Há um plano habitacional em andamento, financiado pela Caixa Econômica Federal, que deverá atender as 878 famílias do movimento. "O problema é que as casas deverão demorar ainda pelo menos cerca de um ano e meio para ficarem prontas. A necessidade é imediata", afirmou ele.

O grande temor – e o que está gerando tensão aos sem-teto – é a possibilidade de confronto a partir da próxima segunda-feira (16). A maioria, conforme disse Boulos, irá resistir à ação de despejo.

Boulos estima que 50% dos sem-teto estão desempregados e que, para a alimentação e outras necessidades básicas, dependem dos auxílios de entidades assistenciais. Para outra coordenadora do MTST, Helena Silvestre, o drama da comunidade Chico Mendes "esbarra em uma certa intransigência das autoridades municipais", referindo-se a ajuda da bolsa-aluguel, limitada em metade do número solicitado.