Maioria das 200 mil armas em circulação no Haiti é ilegal, diz relatório internacional

12/01/2006 - 5h53

Aloisio Milani
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O novo presidente do Haiti, seja ele quem for entre os mais de 30 candidatos que disputam as eleições, e a cúpula da força de paz das Nações Unidas no país terão pela frente o grande desafio de desarmar a população. Divulgado na segunda-feira (9), um relatório conjunto da Anistia Internacional, Ansa e Oxfam estima que existem mais de 210 mil armas leves ou pequenas em circulação no país - a maioria ilegais.

A população total do Haiti é de 8,5 milhões. A história recente do país é marcada pela instabilidade política e rasgada por ditaduras e golpes de Estado. Desde a ditadura de François Duvallier, conhecido como Papa Doc, grupos armados se articularam ou foram organizados para defender interesses políticos à força. Ao longo do tempo, o narcotráfico também passou a ser um grande problema no Haiti. Segundo o relatório, o país mais pobre das Américas se tornou rota para a entrada da cocaína dos Estados Unidos.

Intitulado "Chamada para um forte controle das armas – Vozes do Haiti", o estudo mostra que o Haiti não tem produção própria de armas. Portanto, todos os grupos armados dependem de fontes externas. A pesquisa relata que o tráfico ilegal é comum, geralmente obtendo armas originadas dos Estados Unidos, da República Dominicana, da Jamaica, da América Central,
da África do Sul, de Israel e até do Brasil.

"A violência armada continua tirando a vida de muitas pessoas em Porto Príncipe, a capital do Haiti, apesar da presença da Força de Estabilização da ONU (Minustah). Grupos armados nas áreas pobres – alguns partidários do ex-presidente Jean Bertrand Aristide, alguns apoiadores de grupos políticos rivais, e guangues criminosas – entram em conflito com a Polícia Nacional do Haiti e a força militar da ONU, ou contra elas mesmas", descreve o documento.

No final do ano passado, as entidades registraram depoimentos de haitianos que foram seqüestrados e de pessoas que tiveram seus familiares assassinados em bairros pobres da capital do país, principalmente em Citè Soleil, Carrefour e Bel Air, reconhecidas pela
própria Minustah como áreas de grande conflito.

Ouvido pelas organizações, o integrante da organização Médicos Sem Fronteiras, Ali Besnaci, estima que recebe três vítimas de armas de fogo por dia, além das que vão para outros hospitais ou são simplementes assassinadas em Porto Príncipe.

O lançamento do relatório pela Anistia Internacional, Oxfam Internacional e The Internacional Action Network on Small Arms (Ansa) faz parte de uma campanha pelo controle das armas no mundo a fim de garantir segurança às pessoas contra a violência armada.