Governo e empresários buscam consenso sobre restrição do trânsito de aves entre estados

12/01/2006 - 13h23

Cecília Jorge
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Um dos principais pontos do plano operacional de prevenção da gripe aviária – a restrição do trânsito de aves e subprodutos entre os estados – tem sido motivo de polêmica entre governo e empresários. Representantes do Ministério da Agricultura e do setor avícola estão reunidos hoje para tentar chegar a um consenso sobre o assunto.

Essa questão, segundo o presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef), Ricardo Gonçalves, tem atrasado a aprovação do projeto para evitar a entrada da doença no país. Em discussão desde outubro do ano passado, o plano visa ainda evitar a ocorrência da doença de New Castle, que também ataca as vias respiratórias das aves.

Ricardo Gonçalves disse que a medida, adotada antes mesmo da ocorrência da doença, pode parecer exagerada. Segundo ele, a iniciativa, no entanto, é importante para evitar que caso ocorra um foco da doença, ela não se espalhe para outros estados. "Isso faz com que a gente garanta o fechamento de regiões, mesmo na prevenção, que demonstre com transparência à comunidade internacional que o país está tomando medida que possa defender a eventualidade de uma entrada da doença".

Já a proposta do ministério é de que o bloqueio só deve ser adotado depois que forem identificados problemas sanitários em algum estado. "A grande questão para a discussão da regionalização da avicultura brasileira se baseia principalmente na falta de informações que a gente tem até o momento da diferenciação entre o status sanitário de uma unidade da federação e outra", afirmou o coordenador de Sanidade Avícola do ministério, Marcelo Mota.

Ele acrescentou que os pequenos produtores poderão ter dificuldade de se adequar a essa proposta. "O que a gente identifica é que nem todo o setor produtivo tivesse capacidade de implementação imediata dessas medidas de restrição de trânsito interestadual", afirmou.

Outro problema, na avaliação do coordenador, é que a decisão de restringir antecipadamente o trânsito de aves entre os estados pode causar desconfiança no mercado internacional sobre a existência da doença no país. "Parece que a regionalização estaria atuando de forma preventiva, mas a comunidade internacional ou os consumidores brasileiros poderiam entender esse fechamento de fronteiras entre os estados, dentro do mesmo país, como o início de um pânico ou a presença do próprio agente da influenza aviária", explicou.

O presidente da Abef discorda dessa avaliação, comparando com as medidas de segurança adotadas pelas pessoas em suas casas. "Eu acho que as pessoas tomam medidas de prevenção para evitar que outras entrem. Isso não significa que o ladrão esteja na porta da sua casa cotidianamente esperando para entrar". Segundo Gonçalves, o Brasil é o maior exportador de frango, com US$ 3,5 bilhões vendidos para o mercado externo em 2005.