Haiti continua a pagar dívida externa apesar de não receber ajuda humanitária, diz economista

10/01/2006 - 16h02

Cecília Jorge
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Um dos principais problemas atuais do Haiti é a dificuldade em pagar a dívida externa. A avaliação é da economista e coordenadora de programas do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs), Sandra Quintela. "Cerca de 90% da dívida externa do Haiti é com as instituições financeiras multilaterais, com o Banco Mundial (Bird), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Fundo Monetário Internacional (FMI)", afirmou a economista em entrevista à Agência Brasil.

Ela destacou que as instituições continuam exigindo o pagamento da dívida, avaliada em cerca de US$ 2 bilhões. "Para o Haiti é muito dinheiro. O país continua pagando dívida ao mesmo tempo em que não recebe um centavo de ajuda humanitária para solucionar os problemas reais do país que são a fome, o desemprego e a pobreza", disse.

Sandra esteve no Haiti em abril de 2005, em uma missão internacional de solidariedade coordenada pelo prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel. Segundo ela, toda a ajuda financeira que chega ao país tem sido usada para favorecer a implementação de empresas estrangeiras, como indústrias têxteis e de eletroeletrônicos, atraídas pela mão-de-obra barata. "Grande parte são empresas dos Estados Unidos, mas há muitas empresas da própria República Dominicana, país vizinho que se aproveita também do fato de ter mão-de-obra barata no Haiti", disse. A jornada de trabalho de um haitiano pode chegar a 14 horas diárias, de acordo com Sandra, ao custo de menos de US$ 1 por dia.