Expectativa é que mercado auto-regule preço de combustível, diz pesquisadora

10/01/2006 - 20h00

Lana Cristina
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo, aponta que a alta do álcool sofreu desaceleração na última semana, quando o combustível subiu 2,3%. Em dezembro, o combustível chegou a ter alta de 8%, em relação ao período anterior. Os valores valem para o preço do álcool hidratado praticado na usina.

De acordo com a coordenadora do Projeto Sucro-Alcooleiro do Cepea, a professora Heloisa Lee Burnquist, a expectativa é que, a partir de agora, o mercado se auto-regule. "Houve retração no consumo com a alta do álcool. Se continuar assim, é possível que o preço baixe ainda mais", avaliou.

A pesquisadora aponta como causas da alta do preço do álcool a popularidade dos carros bicombustíveis, que já representam 70% das vendas de veículos leves (e o conseqüente aumento no consumo de álcool), além da obrigação de adicionar corante laranja ao álcool vendido na bomba para evitar adulterações. Essa regra foi estabelecida pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) no mês passado.

Para a professora do Cepea, a tendência é que os preços da gasolina e do álcool se distanciem, a partir de agora. "Não há margem para que se reduza o preço da gasolina, em médio prazo, no mercado internacional. Além disso, a produtividade da cana-de-açúcar aumenta a cada ano e há perspectivas reais de aumento da área plantada", disse.

Heloisa Burnquist disse que outro fator deve favorecer o preço do álcool na bomba. É a perspectiva de expansão da agroindústria de açúcar e álcool, que planeja construir mais 52 usinas nos próximos anos. Hoje, o país tem 345 usinas em operação, distribuídas principalmente em São Paulo, Minas Gerais e Paraná. "Ou seja, é um planejamento favorável à manutenção do preço em patamares mais baixos, já que vislumbra mais oferta diante de uma maior procura. Não vai faltar produto no mercado", ponderou.

Cálculos da professora, com base em preços pesquisados pela ANP, mostram que a diferença entre o preço do álcool e da gasolina ainda resulta em vantagem para o álcool em estados mais próximos dos centros produtores e onde o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) é menor.

São Paulo, que tem a menor incidência da alíquota de ICMS e onde está a maioria das usinas, por exemplo, é o estado onde mais vale a pena abastecer com álcool. Lá, o preço do litro do álcool é 61,5% o preço médio do litro da gasolina. "Vale a pena quando a diferença varia de 60% a 70%. Mas é preciso também avaliar o consumo do carro e a velocidade com que o motorista costuma andar", aconselha Heloisa Burnquist.

Outros estados onde o álcool é a opção mais econômica são: Santa Catarina, Bahia, Paraíba, Goiás, Rio Grande do Norte, Tocantins, Ceará, Alagoas, Pernambuco e Mato Grosso. A gasolina já é mais vantajosa em Sergipe, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul, Acre, Amazonas, Minas Gerais, Piauí, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Roraima, Maranhão, Rondônia, Espírito Santo e Amapá.

Um cálculo elaborado pela Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) também ajuda o consumidor a tirar sua própria conclusão. Basta multiplicar o preço do litro do álcool por 0,70. Resultados menores que o preço do litro da gasolina indicam vantagem para o álcool, mesmo levando-se em conta que os carros consomem mais combustível quando abastecidos com álcool.