Cristovam Buarque promete levar a audiência pública vídeo sobre uso de cobaias humanas no Amapá

10/01/2006 - 17h08

Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, Cristovam Buarque (PDT-DF), afirmou hoje (10) que vai exibir um relatório e um vídeo gravado pela TV Senado nos municípios de São Raimundo do Pirativa e São João do Matapim, no Amapá, envolvendo o uso de cobaias humanas em pesquisas sobre a malária.

Ambos serão apresentados na audiência pública que Cristovam pretende convocar, chamando os ministros da Saúde, Saraiva Felipe, da Educação, Fernando Haddad e das Relações Exteriores, Celso Amorim, para prestar esclarecimentos sobre o caso. A denúncia foi apresentadas pelo promotor do Ministério Público Estadual do Amapá, Haroldo Franco.

Na semana passada, o senador visitou as comunidades ribeirinhas e disse ter sentido "uma profunda tristeza" ao ouvir os relatos de moradores que participaram da pesquisa, que recebiam entre R$ 12 e R$ 20 para se deixarem picar por mosquitos transmissores da malária.

A líder da comunidade de São Raimundo do Pirativa, Maria Siqueira, 47 anos, conta que das 17 pessoas que participaram dos estudos, dez contraíram malária. Segundo ela, os pesquisadores não ofereciam nem curativos para aliviar as dores causadas pelas picadas dos mosquitos.

"Eles [os pesquisadores] não deram assistência nenhuma para ninguém. As quatro pessoas internadas foram assistidas pelas próprias famílias", diz. O mais prejudicado, segundo Maria, foi um de seus irmãos, Francisco, hoje com 64 anos. "Ele não presta mais para trabalhar, só vive doente, com dor no corpo e dor na cabeça", relata.

O estudo foi financiado pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos ao custo de US$ 1 milhão e foi coordenado pela Universidade da Flórida, em parceria com a Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Universidade de São Paulo (USP) e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa).

A pesquisa começou em maio de 2003 e estava prevista para terminar este ano se não tivesse sido interrompida, em 14 de dezembro do ano passado, pelo Conselho Nacional de Saúde. O órgão vai se reunir no próximo dia 17 para analisar os relatórios da comissão enviada ao local para apurar os fatos e decidir as providências a serem tomadas.