Estudo afirma que investimento em educação infantil é o que dá "maior e mais amplo retorno social"

09/01/2006 - 18h50

Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O investimento público em educação infantil é, segundo o estudo "Educação da Primeira Infância" da Fundação Getúlio Vargas, o que apresenta maior e mais amplo retorno social. A pesquisa analisou a freqüência de crianças nas creches (0 a 3 anos) e pré-escolas (4 a 6 anos).

Realizado nos 5.500 municípios do país no ano passado, o levantamento demonstra que a ausência de investimentos em educação infantil prejudica a sociedade de forma geral, aumenta a criminalidade e onera o Estado que, mais tarde, terá que investir em programas sociais de transferência de renda e segurança pública ou na manutenção de presídios, por exemplo.

Os pesquisadores Flávio Cunha e James Heckmam, coordenadores da pesquisa, afirmam que crianças que tiveram oportunidade de freqüentar a escola na primeira infância (até os 6 anos) correm menos riscos. Na idade adulta, apresentam "renda mais alta e probabilidades mais baixas de prisão e gravidez precoce e menor dependência dos programas de transferência de renda", segundo o estudo.

"A educação na primeira infância constitui provavelmente o melhor investimento social existente e quanto mais baixa for a idade do investimento educacional recebido mais alto é o retorno recebido pelo indivíduo e pela sociedade."

Os pesquisadores ressaltam que o investimento público em educação atinge diretamente os segmentos mais pobres. Além disso, o desenvolvimento da capacidade cognitiva e não-cognitiva ocorre ainda na primeira infância e é determinante para o desempenho da pessoa ao longo da vida, especialmente no trabalho. Quanto mais cedo é feito o investimento, mais tempo a pessoa usufrui os benefícios, conclui o estudo.

"Até os dez anos de idade, a maior parte das habilidades cognitivas é formada, condicionando a capacidade de ensino e trabalho por todo o ciclo de vida das pessoas". Por isso, os pesquisadores afirmam que o programa Bolsa Família deveria "exigir alguma contrapartida de freqüência à pré-escola. Talvez ele possa estar chovendo no molhado. É um bom programa no melhor dos casos de transferência de renda, mas não um programa educacional. Acho que dar atenção às crianças até seis anos cria uma contrapartida de que na pré-escola a mãe não só vacine a criança, mas ponha na escola".

O estudo destaca ainda a relação de escolaridade dos pais e dos filhos. A criança, cujos pais têm escolaridade igual a zero, tem 1,35 vezes mais chances de começar a trabalhar que uma criança com pais que têm quatro a sete anos de estudo. Em relação ao abandono ou repetência escolar, os números correspondem a 1,5 e 1,07 respectivamente. Ou seja, quanto mais estudado o pai, mais longe vai o filho. O que demonstra, segundo o estudo, que se houver investimento hoje a situação no futuro pode ser melhor.