Política no Haiti é marcada por golpes e intervenções

07/01/2006 - 16h20

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Após 202 anos de independência, o Haiti continua a ter sua história política assinalada por golpes e intervenções. O país é o mais pobre do continente americano. A expectativa de vida é de apenas 51 anos, a taxa de desemprego é de cerca de 70%, quase metade da população é analfabeta e 80% vivem abaixo da linha da pobreza. Os dados são da Organização das Nações Unidas (ONU).

Ex-colônia francesa - a segunda das Américas a conquistar sua independência, em 1º de janeiro de 1804 - o Haiti foi comandado por militares até 1915, data da primeira invasão norte-americana, que durou 19 anos.

Em 1957, o médico François Duvalier, conhecido como "Papa Doc", foi eleito presidente, com o apoio do exército e das elites locais. Em 1964, declarou-se presidente vitalício e governou até sua morte, em 1971. A ditadura prosseguiu com a sucessão do seu filho "Baby Doc", que acabou fugindo para França em 1986.

Em 1990, sob nova Constituição, foram realizadas eleições livres que levaram à presidência o padre de esquerda Jean-Bertrand Aristide. Empossado em fevereiro de 1991, ele foi derrubado do poder em setembro do mesmo ano, em um golpe liderado pelo general Raoul Cédras. Três anos depois, Aristide foi reconduzido à presidência com o apoio do Exército dos Estados Unidos. O restabelecimento do governo foi possível com a ajuda da Organização dos Estados Americanos (OEA), que enviou ao Haiti cerca 20.000 fuzileiros navais e tropas de vários países da região.

Em 2002, teve início uma nova crise política com as primeiras greves gerais e enfrentamentos entre opositores e partidários do presidente. A oposição temia fraudes nas eleições marcadas para 2004 para que Aristide continuasse no poder por mais cinco anos. Ao final de 2003, um movimento unindo partidos políticos oposicionistas, organizações civis e o setor privado pediu a renúncia de Aristide.

Em janeiro de 2004, a Comunidade Caribenha (Caricom) ofereceu-se como mediadora e apresentou, com a concordância de Aristide, um Plano de Ação Preliminar que previa reformas amplas. A oposição, no entanto, recusou-se a tomar parte nos planos. Em 5 de fevereiro daquele ano, começou uma rebelião que culminou na renúncia de Aristide no dia 29 do mesmo mês. Ariste nega que tenha renunciado e acusa um golpe que, segundo ele, teria sido operado pelo governo dos Estados Unidos.

Instalou-se, então, um Governo Provisório, responsável, dentre outras funções, pela promoção de novas eleições. Desde então, uma força de paz da ONU, composta por cerca de 7.500 soldados e policiais, está no Haiti com o objetivo de garantir segurança e estabilidade à região.