Hospitais utilizam boneca para ajudar crianças a superar medo de tratamento

07/01/2006 - 10h32

Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Profissionais de enfermagem de hospitais infantis de São Paulo encontraram uma solução simples e eficaz para facilitar a realização de procedimentos clínicos em crianças que passam por cirurgias ou tratamentos contínuos. Com uma boneca comum, de cerca de 40 centímetros, as enfermeiras explicam às crianças o que será feito com elas e pedem que os pacientes realizem no brinquedo os mesmos procedimentos. A boneca utilizada sofre pequenas intervenções para possibilitar a colocação de sondas, drenos, cateteres e bolsas de coleta. Com isso os pequenos pacientes perdem o medo do tratamento e não resistem aos procedimentos da enfermagem.

A idéia existe há mais de 30 anos, segundo o diretor técnico do Departamento de Saúde do Hospital Infantil Darcy Vargas, Sérgio Sarrubbo. Há quatro anos, a boneca passou a ser utilizada no hospital para tranqüilizar não só as crianças, mas também seus pais. "Muitas vezes a criança chega no hospital e vai ser submetida, por exemplo, à instalação de soro, que pode ser um procedimento agressivo para ela. A família também se assusta e a boneca vai, em tom de brincadeira, ser submetida a esse mesmo procedimento", explica Sarrubbo.

No Hospital Infantil a boneca é utilizada em praticamente todos os setores, principalmente nos procedimentos cirúrgicos. De acordo com Sarrubbo, a boneca faz com que crianças e familiares conheçam melhor o hospital que, até então, era um mundo desconhecido para eles. "Na unidade de procedimentos cirúrgicos a aplicação é mais intensa porque a cirurgia causa medo, espanto, apreensão por parte dos pais. Com a boneca existe toda uma relação de confiança e segurança". Sarrubbo conta que ao conhecer os procedimentos, os pais e filhos se tranqüilizam.

A boneca terapêutica representa um momento de humanização e acolhimento em todo processo de tratamento e recuperação da criança, além de contribuir para melhorar a interação entre paciente, pais e enfermagem, disse Sarrubbo. "Isso é muito importante na recuperação da criança e no seu comportamento durante o ato cirúrgico, por exemplo. Além disso, muitas vezes a criança tem alta e sai do hospital com uma sonda ou um cateter e nesse momento os pais têm que saber como manipular. A forma de aceitar esse treinamento é por meio da boneca e participando ativamente junto com a enfermagem".

Para a psicóloga do Hospital do Câncer A.C. Camargo, Elizabeth Nunes de Barros, o uso da boneca terapêutica é fundamental para o tratamento das crianças internadas no hospital. "Esse manuseio proporciona que ela consiga lidar com seus medos, com a fantasia do desconhecido e isso traz efeitos bastante positivos, porque a criança aceita melhor os tratamentos, que são bastante invasivos e deixam a criança assustada".

Segundo Elizabeth ao brincar a criança resgata tudo aquilo que faz parte de seu mundo, já que a doença, seu tratamento e os efeitos colaterais não fazem parte desse mundo. "O que faz parte do mundo da criança é o lúdico, o brincar, o saudável da vida, então o brincar dentro do hospital propicia um conforto físico e a melhora da qualidade de vida".