Caixa critica divulgação de relatório do TCU e acusa senador de quebra de decoro

06/01/2006 - 18h15

Ana Paula Marra
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O vice-presidente de Finanças da Caixa Econômica Federal, Fernando Nogueira, acusou hoje (6) o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), integrante da Comissão Parlamentar Mista (CPMI) dos Correios, de quebra de decoro parlamentar. Segundo Nogueira, o senador não deveria ter divulgado informações, a princípio sigilosas, do relatório preliminar do Tribunal de Contas da União, entregue esta semana na CPMI.

O documento aponta indícios de irregularidades na compra, pela Caixa, da carteira de crédito consignado (empréstimo pessoal com desconto em folha de pagamento) do banco BMG. O senador Álvaro Dias nega que tenha sido ele quem repassou o relatório do TCU à imprensa esta semana, mas assume que fez comentários com repórteres sobre os dados constantes do documento.

O BMG está envolvido nas denúncias sobre o caixa 2 do PT, por ter intermediado empréstimos avalizados pelo empresário Marcos Valério ao partido. "Na minha opinião, houve quebra de decoro parlamentar. O próprio presidente do TCU manifestou por duas vezes que o documento preliminar elaborado por um técnico do TCU não poderia ter sido divulgado", disse Nogueira, em entrevista coletiva à imprensa.

Segundo Nogueira, o TCU, por meio de ofício encaminhado ao presidente e ao relator da CPMI, recomendou que evitassem a divulgação das informações, por ser tratar de indícios de irregularidades ainda pendentes de julgamento pela corte do tribunal.

Indagado se houve interesse político por parte do senador Álvaro Dias ao provocar a investigação do TCU sobre o assunto, Nogueira respondeu que sim, mas que vai aguardar que os próprios parlamentares ou o Judiciário tomem as atitudes cabíveis.

Ele acrescentou que, se a CPI dos Correios tiver interesse em ouvir representantes da Caixa a respeito do relatório, a instituição está disposta a prestar qualquer esclarecimento. "Nós temos todo o interesse em esclarecer os fatos. Queremos a verdade. Estamos absolutamente tranqüilos a respeito da operação que nós fizemos com o BMG", disse.

O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), considerou hoje "absolutamente necessário" ouvir representantes da Caixa Econômica Federal (CEF), do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) e do Banco de Minas Gerais (BMG) sobre o assunto. O relatório do TCU aponta possível irregularidade em operação do BMG com o INSS durante o processo de implementação do sistema de crédito consignado para aposentados no país.

O vice-presidente da Caixa também fez críticas ao relatório do TCU que, segundo ele, "contém erros conceituais gravíssimos". E acrescentou: "Esse relatório preliminar revela um total desconhecimento da área econômica e financeira e traz erros de interpretação". Ele também afirmou que operações de crédito entre instituições financeiras, como houve entre Caixa e BMG, são extremamente "normais e legais" no sistema financeiro nacional.