Em Rondônia, dois líderes seringueiros afirmam estar sob ameaça de morte

05/01/2006 - 13h29

Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil

Manaus – Dois líderes seringueiros de Rondônia estão ameaçados de morte por invasores das reservas extrativistas (resex) estaduais: Antônio Teixeira, presidente da Associação de Moradores da Resex Rio Preto Jacundá (Asmorex), e Chico Leonel, presidente da organização não-governamental Bem-te-Vi, que atua na Resex Jaci Paraná.

Os dois – assim como João Batista, presidente da Associação de Seringueiros do Vale do Anari, assassinado no último dia 26 no município de Vale do Anari (RO) – fizeram parte do grupo que foi a Brasília, em setembro de 2005, entregar à ministra Marina Silva um dossiê sobre os conflitos nas reservas extrativistas estaduais do Rondônia.

"Muita gente daqui queria encontrar a ministra, houve disputa para decidir quem iria a Brasília. Acabamos optando justamente pelas lideranças que estavam em situação mais grave, que corriam risco de vida", contou hoje (5), à Radiobrás , o presidente da Organização de Seringueiros de Rondônia (OSR), Osvaldo Castro de Oliveira, que também fez parte da comitiva.

"As ameaças chegam por terceiros, nunca diretamente", afirmou Teixeira. Segundo ele, as suspeitas é que elas partam de grileiros que estão "esquentando" títulos de terra já cancelados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) na Resex Rio Preto Jacundá.

Oliveira também já foi ameaçado de morte, mas conhecia a identidade do agressor: Joaquim Lima, ex-presidente da Associação de Seringueiros de Machadinho D’Oeste. As ameaças aconteceram em julho de 2004.

"A gente descobriu que o Joaquim roubava madeira de dentro da reserva e o denunciou ao Ministério Público. Ele ficou detido por 18 dias", revelou. "Agora o Joaquim não nos amedronta mais porque está preso, por outros motivos ( roubo de moto e tentativa de seqüestro ). Mas os avisos que chegam aos outros companheiros também me colocam em perigo; já que sou o dirigente maior, também posso estar visado." A OSR reúne dez associações extrativistas do estado.

Ainda de acordo com Oliveira, Batista pode ter sido morto por garimpeiros que estavam explorando a Resex Acariquara, também estadual. Em outubro de 2004 ele denunciou a irregularidade à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Ambiental (Sedam), que retirou os mineradores da área. "Só depois da morte do Batista é que eu soube que dias antes do crime ele sofreu um atentado. Alguém passou de moto e disparou contra ele, sem acertá-lo. Se tivesse sido informado da gravidade da situação, aconselharia Batista a deixar Vale do Anari", lamentou.

O assassinato de Batista ainda não está sendo investigado pela Polícia Civil, porque a única viatura da Delegacia de Machadinho D’Oeste, a mais próxima de Vale do Anari, está quebrada. Tanto Oliveira quanto Teixeira informaram que as ameaças contra os líderes seringueiros foram oficialmente comunicadas apenas ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), que encaminhou o dossiê ao Ministério da Justiça.

"Recebemos um ofício informando que o dossiê tinha sido protocolado no Ministério da Justiça. Mas não houve qualquer outra comunicação ou ação do governo federal", informou Oliveira.

De acordo com a assessora de comunicação do Ministério do Meio Ambiente, Sandra de Carvalho, todos os servidores que "poderiam dar uma declaração de peso político" estão viajando. Ela prometeu entrar em contato com a Radiobrás assim que tiver alguma informação ou posicionamento do ministério sobre o caso.

A reportagem aguarda também resposta da assessoria de comunicação do Ministério da Justiça. A chefe da Divisão de Suporte Operacional do Incra em Rondônia, Maria Amália Ferreira, que está respondendo temporariamente pela superintendência, também justificou a impossibilidade de fornecer dados sobre os conflitos fundiários nas reservas extrativistas. "O superintendente e o chefe da Divisão Técnica estão de férias em janeiro. Só eles têm informações sobre regularização fundiária".