Cidade de Deus terá agência de desenvolvimento local

04/01/2006 - 6h12

Aline Beckstein
Repórter da Agência Brasil

Rio – Construído na década de 60 na zona oeste do Rio, o conjunto habitacional Cidade de Deus logo se transformou num labirinto de favelas, onde se instalou o tráfico de drogas no final dos anos 70. Foi justamente esse conjunto habitacional favelizado que a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia escolheu para abrigar a primeira agência de desenvolvimento local implantada numa comunidade carente do Rio.

De acordo com Maurício França, chefe do Departamento de Tecnologias Sociais da Finep, foram destinados R$ 430 mil para a implantação da agência. Entre os projetos, estão a criação de cooperativas para construção civil, confecção de roupa e material esportivos, além de produção de biodiesel a partir de rejeitos de óleo de cozinha de lanchonetes e restaurantes. A previsão é que os projetos comecem a funcionar a partir de abril.

Maurício França informou que a agência da Cidade de Deus é um projeto piloto que poderá ser estendido a outras favelas do Rio. Segundo ele, a comunidade foi escolhida devido a carências nas áreas de emprego, saneamento básico e violência. "É uma comunidade de 55 mil habitantes dominada pelo tráfico. Falta tudo. Só para se ter uma idéia, em cerca de 1.700 domicílios o chefe da casa não tem emprego".

Cleonice de Almeida é uma das coordenadoras do Comitê Comunitário da Cidade de Deus. Ela também reclama que "apesar de ser conhecida até no exterior por causa do filme" (do diretor Fernando Meirelles) a comunidade sofre com a falta de saneamento básico e de escolas. "Aqui só tem uma escola de Segundo Grau. Os jovens que querem estudar têm que procurar outro lugar", disse.

Para o coordenador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), Itamar Silva, responsável pela execução do projeto da agência, a Cidade de Deus tem uma carência mais acentuada que muitas das chamadas favelas tradicionais. "Por não ser exatamente uma favela, ela acaba fora do foco de vários projetos sociais", disse.

Itamar Silva também acredita que o crescimento da Barra da Tijuca, bairro considerado nobre e que fica próximo à Cidade de Deus, trouxe uma espécie de "prejuízo" para a comunidade. "Eu acho que houve uma tentativa de ocultar a Cidade de Deus. Afinal, a Barra era o bairro dos novos ricos, de muitas pessoas que fugiam da zona sul e de suas favelas. Não interessava para a ocupação imobiliária lembrar a existência de uma quase favela, tão pertinho desse novo paraíso", argumentou.