CPI da Compra de Votos investigou depósitos de Marcos Valério e emenda da reeleição

15/11/2005 - 18h56

Iolando Lourenço
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre Compra de Votos foi criada em 17 de julho para apurar as denúncias de recebimento de quaisquer vantagens por parlamentares, em troca de votações desde 1997, quando foi aprovada a emenda que permite a reeleição.

Nos 120 dias de funcionamento, a CPMI tomou o depoimento de várias personalidades para tentar descobrir se houve o chamado pagamento de mesadas a parlamentares em troca de apoio às votações de interesse do governo no Congresso Nacional. O deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que ocupava a vice-presidência da CPMI deixou o cargo, após denúncias de ter pego carona com o publicitário Marcos Valério de Souza, que fez depósitos . Embora o episódio tenha ocorrido no inicio dos trabalhos, o cargo de vice-presidente não chegou a ser preenchido.

Além de aprovar relatório conjunto com a CPMI dos Correios, indicando à Câmara dos Deputados a abertura de processo de cassação de 19 deputados por suposto envolvimento no chamado "mensalão", a CPMI tomou depoimentos do empresário Marcos Valério, dos presidentes dos fundos de pensão Previ – dos funcionários do Banco do Brasil –, Petros – dos funcionários da Petrobras – e Funcef – da Caixa Econômica Federal.

Os três presidentes negaram qualquer envolvimento com o empresário Marcos Valério. A CPMI ouviu, também, os ex-tesoureiros do PT, Delúbio Soares; do PTB, Emerson Palmieri; do PL, Jacinto Lamas, e o ex-assessor do PP, José Cláudio Genu. Também foram ouvidos pela comissão, o ex-deputado Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e o deputado Pedro Corrêa, presidente do PP.

A CPMI promoveu acareação entre personalidades acusadas de pagamento e de recebimento de dinheiro que alimentou o chamado "mensalão". A acareação revelou contradições entre as declarações prestadas pelo empresário Marcos Valério de Souza, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, o presidente do PL, ex-deputado Valdemar Costa Neto, e a funcionária da empresa de publicidade de Valério Simone Vasconcelos. Valdemar Costa Neto manteve a declaração de que recebeu R$ 6,5 milhões do empresário Marcos Valério de Souza para custear campanhas de 2002. Marcos Valério, no entanto, disse que pagou em dinheiro R$ 1,5 milhão e depositou na conta da empresa Guaranhuns Participações e Empreendimentos mais R$ 10,8 milhões para Valdemar Costa Neto.

Para investigar a denúncia de compra de votos para aprovação da emenda da reeleição, foi ouvido o deputado Ronivon Santiago (PP-AC). Em 97, uma gravação mostrava Ronivon negociando a venda de seu voto a favor da reeleição. O deputado confirma que a voz é sua, mas afirma que a fita é uma montagem.

O último depoimento tomado pela CPMI da Compra de Votos, em 9 de novembro, foi do ex-ministro dos Transportes e atual prefeito de Uberaba (MG), Anderson Adauto. O ex-ministro admitiu ter utilizado recursos não declarados à Justiça Eleitoral (caixa dois) em várias campanhas eleitorais. Ele confirmou que recebeu R$ 410 mil de Delúbio Soares.