Ex-agente do SNI diz que foi ''pressionado'' para assumir autoria de gravação

05/07/2005 - 23h11

Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O ex-agente do Serviço Nacional de Informações (SNI), José Santos Fortuna Neves, reafirmou à CPI dos Correios que o seu interesse na estatal, como empresário, esteve sempre voltado para a área de tecnologia. Segundo ele, o ex-chefe de departamento da empresa, Maurício Marinho, ligado à diretoria de Administração, "não o prejudicou em nada". Fortuna negou-se em assinar a declaração em que prestaria o depoimento na qualidade de testemunha, portanto, obrigado a dizer a verdade sob o risco das penalidades da lei.

No depoimento a CPMI, Fortuna reafirmou que Agência Brasileira de Inteligência (Abin) investigava os Correios a pedido da Casa Civil. O ex-agente passou a ser investigado pela Polícia Federal depois que seu nome foi citado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB- RJ), no plenário da Câmara, quando tentou defender-se das acusações publicadas na revista Veja de comandar um esquema de corrupção nos Correios.

José Fortuna Neves disse ter ouvido do analista de informações da Abin, Edgard Lange, que a Casa Civil teria determinado a investigação nos Correios com o objetivo de prejudicar a empresa de informática Unysis num contrato que tem firmado com a estatal. Lange, no depoimento desta terça-feira (05), descartou qualquer determinação da Casa Civil neste sentido. "Não conheço ninguém na Casa Civil e neste tempo todo de trabalho (29 anos) jamais estive na Casa Civil", afirmou o analista da Abin.

Fortuna disse ter sido pressionado para assumir a autoria da gravação que flagrou Maurício Marinho recebendo R$ 3 mil. Segundo ele, a história da fita só chegou ao seu conhecimento quando publicada pela imprensa. Quando viu o seu nome envolvido no esquema de gravação, Fortuna disse ter procurado Edgard Lange para pedir ajuda a esclarecer o caso.

Pela história contada pelo ex-agente do SNI aos deputados e senadores, nesta conversa, o analista da Abin teria recomendado que ele não conversasse com nenhum jornalista sobre o assunto. Ainda segundo a versão de Fortuna, o analista da Abin pediu a ele que ficasse isolado e recomendou que ele conversasse com o repórter da revista Época, Matheus Machado. Isso teria sido feito, mas a reportagem nunca foi publicada, de acordo com Fortuna.

No depoimento à comissão, Lange negou toda a história contada por Fortuna. Segundo ele, ao perceber a preocupação do ex-agente com o que fora publicado pela Revista Veja, perguntou, "em tom de brincadeira" se ele não estaria por trás das gravações. Segundo Edgard Lange, nesta conversa Fortuna teria negado e ele, ainda em tom de brincadeira, emendou: "Fortuna, você sabe que a comunidade (de informação) acha que você está por trás disso", no que o ex-agente teria pedido ajuda para que se esclarecesse a autoria da gravação.