Especial 7: Queda da Nasdaq foi a grande vilã da crise mundial da aviação, afirma especialista

04/05/2005 - 19h46

Marli Moreira e Paulo Montoia
Repórteres da Agência Brasil

São Paulo – É sabido que os atentados às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, a 11 de setembro de 2001, fez sumir passageiros dos vôos internacionais em 2002 e que o quadro se agravou com a Gripe Asiática - a Sars. Mas de acordo com o professor adjunto do Departamento de Transporte da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Respício do Espírito Santo Júnior, especialista no setor, os dois episódios foram como que tiros de misericórdia e a verdadeira crise foi provocada em 2000, com a queda de valor das empresas de internet na Bolsa Eletrônica de Nova York, a Nasdaq.

"O transporte aéreo no mundo inteiro passou por um baque muito violento, que foi anterior aos ataques de 11 de setembro. Quem diz que o transporte aéreo começou a cambalear depois dos ataques é que não conhece a história que realmente originou isso. Uma das origens é a mudança no perfil do passageiro. Em 2000, nós tivemos a quebra da Bolsa Eletrônica, a Nasdaq, nos Estados Unidos. Então, aqueles grupos, os famosos ponto.com (referência às empresas de internet), que tinham a sua microempresa valendo milhões na Bolsa Nasdaq, de um dia para o outro não estavam valendo mais nada. Justamente essas pessoas é que estavam catapultando a economia americana européia e asiática, e tudo o mais, para um patamar virtual abstrato, não existia, era dinheiro de bolsa. Então, era especulação", explica. "Quando o mercado caiu na real, (quando) você abria a sua empresa na segunda-feira valendo US$ 3 milhões e fechava essa empresa valendo US$ 30 mil, esse dinheiro desapareceu na desvalorização das ações e fez com que a economia americana sofresse um baque violentíssimo. E quando isso acontece o mundo inteiro vem atrás."

Segundo o professor, os passageiros que pagavam tarifa cheia até a crise da Nasdaq acabaram migrando mais rapidamente para as chamadas companhias de baixo custo, esvaziando os vôos das empresas de gerenciamento tradicional. Como os custos de combustível, taxas, leasing e outros em cada vôo são elevados, poltronas vazias significam perdas crescentes. Os atentados em Nova York e a crise da Gripe Asiática agravaram a situação. Essa é uma das razões pelas quais as empresas em situação mais difícil no Brasil nessa época são as que operavam a maioria das linhas para o exterior: Transbrasil, Varig e Vasp.