Frente parlamentar destaca coragem de jogador em denunciar racismo

14/04/2005 - 22h02

Brasília, 14/4/2005 (Agência Brasil - ABr) - Elogios à atitude do jogador Edinaldo Batista Libânio, o Grafite, do São Paulo, surgiram dos mais variados fóruns. No Congresso, a Frente Parlamentar em Defesa da Igualdade Racial exaltou a coragem de Grafite em denunciar e prestar queixa contra o jogador argentino Leandro Desábato, que o ofendeu no jogo do Quilmes contra o São Paulo.

O presidente da Frente, o deputado Luiz Alberto (PT/BA) afirmou, em nota, que Grafite defendeu seus direitos, ao utilizar a legislação anti-racista, depois de se sentir ofendido. O deputado teve requerimento seu aprovado no último dia 6, pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias, para realização de uma audiência pública sobre manifestações racistas em eventos esportivos. "O racismo no esporte brasileiro é dissimulado sob a fachada das brincadeiras e apelidos ditos amigáveis, um sintoma da sofisticação das práticas racistas na sociedade brasileira. Mesmo num ambiente de socialização, como o esporte, o indivíduo não está livre de ações que revelam intolerância e preconceito", disse. A audiência ainda não foi marcada.

A queixa de Grafite também foi comemorada pela organização não-governamental Diálogos Contra o Racismo, autora de uma campanha lançada em março contra atos de racismo praticados contra jogadores brasileiros nos estádios europeus. "Não se pode mais aceitar que nos acomodemos. Esse é o momento de dizer 'Chega! Basta!'. Afinal, existem outras formas de se relacionar com os adversários", afirmou Luciano Cerqueira, coordenador da campanha.

Desde março, a Diálogos Contra o Racismo envia à Federação Internacional de Futebol (Fifa), à Federação Européia de Futebol (Uefa) e à Real Federação Espanhola de Futebol, cartas de brasileiros, endossadas via Internet, com protestos contra a violência racista nos campos. Jogadores brasileiros como Ronaldinho Gaúcho, que atua no Barcelona, Roberto Carlos do Real Madrid, Juan e Roque Júnior, do Bayer Leverkussen de Munique (Alemanha), são citados na carta-padrão escrita pela ONG por terem sido vítimas de ofensas por parte das torcidas. Eles foram chamados de "macacos", entre outros nomes pejorativos, ligados ao tom de pele. A campanha contra o racismo nos campos é intitulada "Mande um cartão vermelho para o racismo no futebol".

Para Cerqueira, a velha rivalidade entre argentinos e brasileiros não atenua a atitude de Desábato. "Não atenua, não. Não tem que aliviar. Até porque a rivalidade no jogo existe há muito tempo entre argentinos e brasileiros e já houve casos de xingamento da parte dos argentinos, com tons racistas", justificou. Ele lembrou que Desábato é reincidente. O jogador argentino já havia ofendido Grafite, no jogo "de ida", que ocorreu em Buenos Aires há algumas semanas. "O presidente do Quilmes inclusive escreveu carta com pedido de desculpas pela atitude do jogador ao presidente do São Paulo. O brasileiro aceitou. Mas agora, não, chega", contou.

Pesquisa apontada pela Diálogos contra o Racismo motivou a ONG a lançar, em dezembro, campanha intitulada "Onde você guarda o seu racismo?", da qual faz parte a campanha contra o racismo no futebol. A campanha envolve 40 organizações e tem o objetivo de fazer com que as pessoas identifiquem o próprio preconceito e livrem-se dele. A pesquisa mostrou que 87% dos brasileiros reconhecem que existe racismo no país, mas só 4% dos que responderam ao questionário admitiram ser racistas. "Racismo velado sempre existiu no Brasil. Infelizmente, nenhuma atitude era tomada até agora, quando manifestações racistas ocorriam no campo. Mas o incidente com o jogador Grafite mostrou que temos de tomar medidas contra isso firmemente. Temos que fazer bem o dever de casa, para cobrar daqueles que estão lá fora", observou.