Estudo traça o perfil do deficiente no Brasil

16/10/2003 - 21h40

Brasília, 16/10/2003 (Agência Brasil - ABr) - Fazer uma radiografia da situação do deficiente físico no país é a proposta do estudo "Retratos do Deficiente no Brasil", apresentado hoje, em Brasília, pela Fundação Banco do Brasil, com apoio da Fundação Getúlio Vargas (FGV). São 24,5 milhões de brasileiros que possuem algum tipo de deficiência. O Estudo buscou traçar as condições de moradia, distribuição geográfica, capacitação profissional e níveis de renda dessas pessoas.

O retrato não é nada bonito. A conclusão da pesquisa mostra que a exclusão social vivida pelo deficiente é muito forte, a renda é menor e o nível de escolaridade está abaixo da média. A situação ainda é pior para cerca de cinco milhões de pessoas, com limitações mais severas, chamadas no estudo de "pessoas perceptoras de incapacidade (PPIs)" - com pelo menos alguma incapacidade de andar, ouvir, enxergar e os deficientes mentais. Quase a metade dessas pessoas (43%) vive abaixo da linha da pobreza, sobrevivendo com menos de um salário mínimo por mês.

Os números da deficiência estão ligados diretamente ao nível de renda da população. Quanto maior a renda menor o número de pessoas portadoras de deficiência. A diretora de Saúde da Fundação Banco do Brasil, Dulcejane Vaz, explicou que a deficiência muita vezes acontece por falta de condições de higiene, de acesso à educação, saúde.

De acordo com Dulcejane, um dado importante para a construção de políticas públicas é que 30% das pessoas portadoras de deficiência têm mais de 60 anos. Isso quer dizer que a deficiência é adquirida ao logo da vida. "Todos nós estamos sujeitos ao longo de nossa história sermos também pessoas portadoras de deficiência", disse.

Educação

Cerca de 27% das pessoas com deficiência não tem nenhum nível de instrução, número bastante próximo da realidade brasileira, que hoje está em torno de 25%. Entretanto, se analisarmos somente as pessoas classificadas como PPIs, esse número sobe para 42,5%.

Emprego

Somente 2% dos deficientes, isto é, 5 milhões de pessoas estão no mercado formal. Outros 30% já estão aposentados, pela idade ou grau de deficiência. E onde estão os 68% restantes? A pesquisa não conseguiu identifica-los, mas sabe-se que grande parte dessas pessoas encontram-se no mercado informal ganhando bem abaixo da renda. Mesmo os trabalhadores formais com o mesmo grau de escolaridade dos outros trabalhadores, segundo a pesquisa, recebem cerca de R$ 100 reais a menos.

A professora Marinalva Pires, deficiente visual, conhece bem esse drama. Para ela a maior barreira que enfrenta é o preconceito. "Eu já passei por várias dificuldades para procurar emprego. As pessoas acham que por eu ser deficiente visual eu não vou dar conta de fazer tal coisa por ser deficiente. É um preconceito que temos mostrado a todo mundo que estamos conseguindo vencer".

Saúde

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 600 milhões de pessoas apresentem algum tipo de deficiência em todo mundo. Grande parte dessas pessoas está nos países em desenvolvimento. O principal fator que gera a deficiência é a falta de assistência na gravidez, cerca de 16,8% dos casos, seguido de problemas genéticos, 16,6%.

Quanto às causas externas, a violência, os acidentes de trabalho e de transito são os principais vilões. Tem ainda cerca de 60 milhões de pessoas adquirem a deficiência por causa do alcoolismo e o uso de drogas. O envelhecimento na população brasileira cria também um novo tipo de deficiência que o nosso sistema de saúde tem que se adaptar, que são as doenças crono-degenerativas, como: hipertensão, Diabetes, Mal Alzheimer, osteoporose e outros males.

Ranking dos Estados

Os oitos estados que lideram as taxas de pessoas com deficiência são da região nordeste. Segundo o censo realizado em 2000, os Estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Pernambuco registram o maior número de casos de pessoas portadoras de deficiência. São Paulo fica no outro lado da lista, sendo o estado que possui o menor número de deficientes.