Lula compartilha com o povo alegria da festa da cerveja em Blumenau

03/10/2003 - 23h18

Blumenau, 3/10/2003 (Agência Brasil - ABr) - Depois de quase trinta anos sem receber a visita de um presidente da República, a cidade catarinense de Blumenau parou na noite de hoje para ver de perto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Milhares de pessoas se espremeram na estreita rua principal da cidade para acompanhar o desfile de abertura da Oktoberfest e tentar ver o presidente. Das janelas dos prédios, das calçadas, de cima de sacadas, a cidade inteira se mobilizou para promover uma calorosa recepção a Lula - que não decepcionou.

Ao contrário. Vestido com calça e camisa normais, mas com o chapéu alemão no estilo tirolês na cabeça, ele subiu no palanque montado na rua principal com a disposição de corresponder às expectativas do povo. A chegada de Lula foi digna de um "popstar": gritos, choro e muitos beijos e acenos de longe. O presidente subiu no palanque acompanhado da primeira-dama, Marisa Letícia, que também homenageou a cidade usando uma "tiara" feita com flores, no estilo alemão.

Lula esperou o desfile começar, em cima do palanque, por cerca de quinze minutos. O "atraso" foi justificado: a rua ficou tão cheia, que foi difícil abrir caminho para que as alegorias passassem. Nesse meio tempo, ele fez questão de distribuir autógrafos às pessoas que conseguiram se aproximar dos seguranças, para que eles levassem papéis ao presidente. O presidente também aproveitou o atraso para colocar em dia a conversa com o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, e o prefeito de Blumenau, Décio Lima.

Logo que o desfile começou, uma surpresa: na carruagem abre-alas estavam a filha e a neta de Lula, Lurian e Maria Beatriz, que são ex-moradoras de Blumenau e fizeram questão de participar do evento. Não demorou muito para Lula entrar no clima. Pegou um copo de cerveja e brindou com o governador e o prefeito. Em seguida, fez um brinde especial com a primeira-dama. Daí por diante, a festa foi contagiando cada vez mais o presidente.

Muito à vontade, Lula brincou com os jornalistas que se aglomeravam embaixo do palanque para captar a melhor "imagem" do presidente com um copo de cerveja nas mãos. E disse: "morram de inveja". Um fotógrafo acabou atraindo a simpatia do presidente e recebeu, em mãos, o copo para terminar de beber a cerveja. Lula também brincou com a primeira-dama e transferiu o seu chapéu alemão para a sua cabeça, como forma de homenagear a cidade.

À medida que o desfile foi ficando cada vez mais animado, o mesmo acontecia com o presidente. Ele pediu pessoalmente aos seus seguranças, em várias ocasiões, para deixar os "foliões" furarem o bloqueio e entregarem pessoalmente presentes, flores e, até mesmo, cerveja. O comerciante de Blumenau, Hilton Sheitemantel, conseguiu subir no palanque e oferecer ao presidente chope retirado de um barril montado, estrategicamente, em suas costas. "Graças a Deus eu consegui. Eu desejei isso faz meses. Eu quase dei um beijo nele, porque ele merece", disse entusiasmado o folião.

Lula também acabou sendo gentil e provando vários chopes de participantes do desfile, que iam até embaixo do palanque para oferecer o caneco ao presidente. Ele também fez questão de receber em mãos o brasão da tradicional "centopéia" - o conjunto de 20 bicicletas unidas que fazem zigue-zague pela rua enquanto desfila. O genro de Lula, marido de Lurian, Marcelo Sato, desfilou na centopéia e entregou o brasão ao presidente em nome de todos do grupo.

O desfile reuniu 12 carros alegóricos e 82 atrações no total, que variaram desde bandas escolares a mini-blocos formados por amigos ou sócios de clubes e entidades. Todos desfilaram com roupas típicas alemãs e canecas de chope - o símbolo da festa. Crianças, jovens, adultos e até cachorros marcaram presença, apresentando as mais diversas versões para as roupas alemãs. Até o empresário Beto Carrero, dono de um dos maiores parques temáticos da América Latina, localizado em Santa Catarina, levou algumas de suas principais atrações para animar o desfile.

No final da apresentação, uma surpresa. Quebrando o protocolo, Lula fez questão de falar à população de Blumenau. Agradeceu a acolhida, e garantiu que ia aproveitar a segunda noite da Oktoberfest para conhecer de perto a tão famosa cerveja da cidade. "Eu espero que agora à noite a gente se encontre, porque vai ter cerveja rolando no pedaço, e nós somos filhos de Deus. E como filhos de Deus nós temos o direito de ter acesso às coisas boas produzidas pelos filhos de Deus", brincou.

O presidente disse que todos os conselhos que recebeu para não ir à Oktoberfest, por ser conhecida como um evento onde as pessoas "bebem demais", caíram por terra. "Eu vi hoje pai, mãe, desfilando com os seus filhos no carrinho. Vi pessoas de 80 anos desfilando com outras de seis meses. Vi trabalhadores desse país fazendo uma festa, porque têm direito de fazer essa festa. Afinal, o mundo não é feito somente de trabalho, mas de alegria e prazer", comentou.

Lula também fez questão de falar à população sobre a boa impressão que Blumenau lhe causou. Ele elogiou a beleza da cidade e, em especial, da população. "A Oktoberfest é a festa da cerveja, mas uma aula de cultura de um povo que conseguiu criar um estado excepcional. Um povo bonito, que a gente olha na cara da criança e vê que a mãe comeu quando estava grávida, que a avó comeu quando estava grávida. E a criança comeu desde o dia que nasceu", disse.

Na opinião do presidente, o exemplo bem sucedido de Blumenau deve ser seguido por todos os demais governadores e prefeitos do país. Ele defendeu que todos os governadores façam visitas a outros estados para conhecerem de perto as ações que trazem benefícios à população. E fez um desafio, em especial, para que os representantes dos estados conheçam Blumenau. "Era necessário convidar todos a virem a Blumenau para que cada um tivesse a clareza da diferença que existe entre os estados brasileiros. A cidade tem uma renda per capita de US$ 10 mil. E em outros estados a situação econômica não é muito fácil", ressaltou.

As palavras do presidente agradaram aos blumenauenses, que deixaram o desfile com a sensação de "dever cumprido". O estudante Antonio Menestrimo desfilou no bloco "As aftas ardem", organizado pelos seus amigos, e não escondeu sua alegria com o resultado da festa. "O público estava em peso até o fim. O Lula trouxe mais gente para cá. Fazia tempo que Blumenau não recebia tanta gente assim", afirmou.

O sentimento de alegria não foi apenas do estudante, mas das pessoas que enfrentaram o forte calor para homenagear a cultura da cidade e o presidente da República. Muitas passaram mal e foram socorridas em ambulâncias montadas atrás do palanque de Lula - que não chegou a ver os casos de atendimento médico. Todo o sacrifício, porém, valeu a pena, de acordo com alguns. "Eu faria tudo de novo, porque queria muito ver o presidente. Espero que ele volte no ano que vem para levantar de novo a auto-estima da cidade", resumiu a estudante Daniela Ramos.