PIB cresce 110 vezes, mas renda per capita só 12 vezes no século XX

29/09/2003 - 20h22

Rio, 29/9/2003 (Agência Brasil – ABr) - O Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) cresceu 110 vezes em valor, no século XX (1901 a 2000), enquanto a renda per capita aumentou quase 12 vezes. Estes e outros dados fazem parte da publicação Estatísticas do Século XX, que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta segunda-feira no Rio.

O documento constata também que, ao longo do século XX, a taxa média de inflação anual passou de 6% nos anos de 1930 para 764% entre 1990 e 1995, caindo para 8,6% ao ano de 1995 a 2000.

Revela que a população brasileira saltou de 17,4 milhões para 169,6 milhões de pessoas nesse período, 10% desse crescimento deve-se aos imigrantes. O documento mostra, ainda, que a expectativa de vida do homem brasileiro subiu de 33,4 anos em 1910 para 64,8 anos em 2000.

Ainda no que diz respeito ao capítulo das Contas Nacional, o Estatísticas do Século XXI mostra que o crescimento geométrico médio do PIB – soma de todos os bens e serviços produzidos no país – no século passado foi da ordem de 2,5% ao ano, um feito que poucas economias conseguiram superar, destacando-se o Japão, Taiwan, Finlândia, Noruega e Coréia.

Nas duas primeiras décadas, quando o café ainda era a atividade predominante, o PIB per capita, segundo o IBGE, permaneceu estagnado. De 1920 a 1980, no entanto, a urbanização e a industrialização fizeram o PIB per capita praticamente dobrar a cada 20 anos. Embora nas duas últimas décadas do século, a economia tenha praticamente estagnado. Nesse período, o PIB per capita aumentou pouco mais de 1,1 vez, chegando a apresentar quedas drásticas em alguns anos. A crise de 1981/1984 foi a mais severa delas, com queda de 12% do PIB per capita, enquanto a de 1988/1994, a mais prolongada. Ao longo do século, o PIB real ampliou-se 100 vezes e a população pouco menos de 10 vezes.

Ao comentar o resultado do estudo, o ministro do Planejamento, Guido Mantega, foi claro: "o Brasil conseguiu crescer 80 anos e passar outros 20 patinando nos 100 anos do século passado. A esperança agora é que o país possa crescer outros 80 anos ou mais. Mas isto não será possível, e não conseguiremos alcançar as Nações mais desenvolvidas, se não conseguimos resolver os problemas relativos à concentração de renda", afirmou Mantega.

Uma análise do documento, sob o ponto de vista da inflação, indica que a partir da década de 30, a inflação apresentou tendência de crescimento que só veio a ser revertida com o Plano Real, em 1995. "A taxa média anual de inflação foi num crescendo de 6% nos anos 30 para 12% nos anos 40; 19% nos anos 50; 40% nas décadas de 60 e 70; 330% nos anos 80; até chegar aos 764% entre 1990 a 1995, quando então ela caiu para 8,6% entre 1995 a 2000".

O documento do IBGE, quase uma reconstituição da evolução econômico-social do país nos últimos 100 anos, mostra que no início do século o Imposto de Importação era a principal fonte de receita federal, chegando a corresponder, em 1908, a 80% do total da arrecadação e a 7% do PIB. No entanto, ele veio perdendo importância ao longo das décadas que se sucederam, enquanto o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o Imposto de Renda (IR), criado em 1924, crescem "vigorosamente". Com isto, o Imposto de Importação termina o século representando menos de 1% da arrecadação federal.

A solenidade de lançamento do estudo do IBGE contou com as presenças dos ministros da Integração Nacional, Ciro Gomes, e do Planejamento, Guido Mantega, além do presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes, e do Economista Celso Furtado – o grande homenageado da noite.

Ao falar sobre a obra lançada pelo IBGE, Furtado considerou a publicação fundamental para que o governo possa traçar diretrizes. "Você não pode governar hoje em dia sem um conhecimento diário do que acontece. As estatísticas hoje tem muito mais importância nas tomadas de decisões. A obra mostra que as mudanças na economia do país, em muitos casos, são positivas, mas em outros são negativas. A verdade é que o Brasil não conseguiu ainda uma fórmula, um meio de evitar a concentração de renda, que continua se concentrando mesmo em fase de recessão, ou seja: mesmo sem crescer, a renda continua se concentrando no país. E isto cria uma grande expectativa em relação ao futuro do Brasil e tem um aspecto social terrivelmente negativo em relação ao futuro do Brasil".

Para o economista, o Brasil possui uma sociedade com deformações muito grandes: "E isto não se transforma facilmente. É impressionante como o país que mais cresceu no mundo, como o Brasil no século XX, é ao mesmo tempo o país onde a renda mais se concentrou.

O documento do IBGE traz dados históricos em 543 páginas, com 16.500 arquivos que o acompanham em CD Rom, traçando um retrato fiel da evolução histórica do país nos últimos cem anos.

Nielmar de Oliveira