Voz do Brasil, Voz do Cidadão

02/09/2003 - 15h19

Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil

Brasília - No ar há quase sete décadas, a Voz do Brasil ganhou, no dia 1º de setembro, uma nova cara, um novo formato _ e novas vozes. O programa alcança tanto comunidades ribeirinhas da Amazônia como escritórios da Avenida Paulista. Mas a principal mudança é de conteúdo editorial. As matérias, antes centradas na atuação e no discurso das autoridades do Executivo, passam a ter como foco o cidadão. "A Voz do Brasil sai do gabinete e vai para as ruas com matérias feitas a partir da necessidade do ouvinte", explica Helenise Brant, nova editora-chefe do programa.

"O Guarani", música de abertura da Voz do Brasil, recebeu novas versões elaboradas pelo maestro Sergio Sá. Junto com as vinhetas, a obra de Carlos Gomes terá variações em ritmo de forró, samba, choro, bossa-nova, capoeira, moda de viola, techno e drum and bass. "A alteração da Voz implicava em uma mudança sonora", diz Sergio. "Eu tinha uma bronca com o aspecto formal do programa e contribuir para torná-lo atraente foi muito interessante", conta.

Assim como "O Guarani", a célebre frase "em Brasília, dezenove horas" também foi substituída por uma variação. "Sete horas em Brasília" é o novo mote de abertura. O objetivo é usar uma linguagem mais simples, direta e clara. "Sete horas é mais natural. No dia-a-dia, ninguém fala dezenove horas", diz Helenise.

A Voz do Brasil passou a ser apresentada por quatro pessoas. Além dos locutores Luciano Seixas e Luiz Fara Monteiro, também estão participando os jornalistas Kátia Sartorio e Leandro Fortes, ambos da Radiobrás.Os dois terão a função de contextualizar o noticiário e torná-lo mais objetivo para o cidadão.

Foram quase três meses de estudos, pesquisas e pilotos para se chegar ao novo formato do noticiário. Um grupo de sete funcionários fez um levantamento dos pontos a serem mudados. Para executar o novo projeto, uma equipe de nove pessoas foi responsável pelos pilotos e a finalização do trabalho.

Esta é a segunda reforma editorial do programa. Em 1999, novas vinhetas foram introduzidas, a locução perdeu um pouco a formalidade e houve mudanças nos quadros. Porém, as alterações foram pensadas e realizadas em apenas 10 dias, o que comprometeu sua execução. "A mudança acabou sendo apenas na estampa do programa", lembra o locutor Airton Medeiros.

O programa entra, agora, em um novo capítulo da sua trajetória, que começou em 1932, no governo de Getúlio Vargas. Acompanhou 24 presidentes da República, já teve três nomes diferentes e noticiou a promulgação de quatro Constituições e oito mudanças de moeda.

Em 1º de março de 1932, estreou o "Programa Nacional". O país vivia o momento pós-revolução de 1930, com o Governo Provisório e a chefia de Getúlio Vargas. Era o início da ditadura do Estado Novo, da censura e da autopropaganda. O surgimento da Voz se deu antes mesmo da criação do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), montado para controlar a informação e divulgar ações da Presidência. Naquela época, o governo já noticiava suas ações nos veículos impressos e viu, no crescimento do rádio, um instrumento mais eficaz para atingir seus objetivos. Na era Vargas, o DIP foi responsável por controle ideológico e censura aos meios de comunicação.

Em 1934, passou a ser transmitida como "A Hora do Brasil". Em 1935, o programa foi ao ar pela primeira vez por meio da Rádio MEC, no Rio de Janeiro, às 19 horas _ horário nobre em audiência. O primeiro locutor foi o carioca Luiz Jatobá.

Outro dos pioneiros foi Teófilo Vasconcelos, um narrador de corridas de cavalo, como conta o também ex-locutor da Voz, Arnaldo Nogueira. "Ele trabalhava no Jockey Club do Rio. A família Paula Machado, dona do lugar, tinha grande influência política e conseguiu para ele o emprego. Era uma coisa esdrúxula, ele lia as notícias como uma metralhadora".

A transmissão da Voz por todas as rádios do país passou a ser obrigatória em 1938. Desde então, todos os dias, exatamente às sete horas da noite, o programa é transmitido em rede nacional por todas as emissoras brasileiras.

A Rádio Nacional do Rio de Janeiro surgiu em 1936 e foi essencial para o desenvolvimento do jornalismo radiofônico no Brasil. Com a sua criação, nasceu o "Repórter Esso", noticiário que ficou no ar por quase 30 anos.

A estréia do nome "Voz do Brasil" aconteceu em 1962. Naquele ano, o programa deixou de divulgar apenas os atos do Executivo. A Câmara e o Senado ganharam a segunda meia hora. Com o tempo, o poder Judiciário também passou a ocupar o noticiário. Foi também em 62 que a Voz do Brasil passou a ficar sob responsabilidade da antiga Empresa Brasileira de Notícias (EBN).

Sob censura, novamente, durante a ditadura militar, a Voz do Brasil ficou sob rigoroso embargo até a revogação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), em 1978. Em1988, a EBN foi substituída pela Radiobras.