Endocrinologista alerta para risco de interrupção da reposição hormonal

13/07/2002 - 16h56

Brasília, 13 (Agência Brasil - ABr) - Pedir orientação médica antes de tomar qualquer atitude drástica foi o conselho da presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia no Distrito Federal, Valéria Guimarães, às mulheres que fazem tratamento de reposição hormonal para redução dos efeitos da menopausa.

Em entrevista à Rádio Nacional AM, ela afirmou hoje que para muitas mulheres a interrupção do tratamento pode trazer de volta os sintomas que causam desconforto, como as ondas de calor, as crises noturnas de suor e a secura da vagina, a ponto de interferir em suas atividades diárias.

Valéria aconselhou, somente às mulheres que usam o medicamento comercialmente vendido como Premele (uma combinação de estrogênio com acetato de medroxiprogesterona), parar com a medicação caso estejam receosas diante da notícia, veiculada nesta semana, de que essas drogas aumentam o risco de desenvolver doenças como câncer de mama, infarto, ataque cardíaco, derrame e trombose. "Elas devem de toda forma procurar seus médicos para saber o que fazer daqui para a frente", recomendou a endocrinologista.

O estudo citado pela médica foi conduzido pela Womens's Health Initiative, com 16 mil participantes. Financiada pelo governo norte-americano, a pesquisa deveria ser concluída somente em 2005, mas o diretor da instituição, Jacques Rossouw, disse que a decisão de interrompê-lo foi tomada no dia 31 de maio, depois da análise dos dados acumulados após cinco anos durante os quais as mulheres tomaram as drogas. É que havia um limite, dentro do risco considerado normal entre a população, para o desenvolvimento de doenças. E este limite foi atingido e até ultrapassado.

O aumento foi considerado pequeno dentro do risco normal, disseram os pesquisadores que conduziram o estudo, mas significativo. Baseados nesses parâmetros de segurança, eles advertiram que entre 10 mil mulheres que tomaram as drogas por um ano, oito poderiam desenvolver o câncer invasivo de mama, sete poderiam ter um ataque cardíaco, oito poderiam ter um infarto, e 18 mil delas poderiam desenvolver uma trombose. .

Foi um duro golpe no tratamento convencional de reposição dos hormônios que a mulher começa a ter reduzidos a partir dos 35 anos de idade e cuja curva vai declinando para uma produção de menos de 20%, quando ela chega aos 50 anos. Valéria alertou para o fato de que as mulheres brasileiras são diferentes das norte-americanas em vários aspectos e que, por isso, é temerário adotar o procedimento de interrupção tomando por base o estudo. "A mulher brasileira é mais magra, faz mais exercícios e tem um estilo de vida totalmente diferente", alertou. Outro detalhe a ser considerado é que a mulher brasileira prefere usar os hormônios por causa dos seus benefícios. "As brasileiras gostam do hormônio porque querem ter a vida sexual prolongada, elas querem o fim das ondas de calor e depressão", observou.

Para Valéria, é um risco generalizar que, a partir de agora, toda mulher que faz reposição hormonal terá um derrame ou infarto, pois no Brasil há vários tipos de combinação usados no tratamento da menopausa, e também de dosagens. "Além do mais, não temos estudos feitos aqui comprovando que exatamente as drogas usadas no estudo norte-americano causam problemas. Ao contrário, nos nossos consultórios, não vemos isso ocorrendo com nossas pacientes", afirmou.

De acordo com a endocrinologista, a mesma pergunta que o estudo queria responder é comungada por médicos do mundo inteiro: os hormônios femininos, quando aplicados para reposição, melhoram os sintomas da menopausa, previnem doenças como o câncer ou reduzem as chances de um derrame ou infarto? Por isso, o resultado encontrado nos Estados Unidos não deixa de ser um alerta. No entanto, ela prefere aconselhar a visita ao médico como melhor forma de orientação. "No caso de haver necessidade da reposição, o acompanhamento anual é obrigatório", ela ressaltou.

Há diversos hormônios no mercado, além dos aplicados no estudo americano, que podem ser usados como alternativa, disse Valéria. São pelo menos 10 apresentações de hormônios como o estradiol e a progesterona micronizada. A médica, no entanto, reprovou o uso do hormônio da soja, à venda nas farmácias, porque além de não ter o efeito desejado (diminuição dos sintomas como onda de calor), prejudica a absorção de outros medicamentos prescritos à paciente: "Não repõe a taxa hormonal e pode atrapalhar, por exemplo, a reposição do hormônio da tiróide, que é necessária para algumas mulheres que têm esse hormônio reduzido durante a menopausa".

A melhor conduta, continuou a endocrinologista, é adotar uma alimentação rica em soja, essa sim benéfica para a saúde, e também em verduras e frutas. A dieta deve ter a gordura e o açúcar reduzidos. Para as mulheres que já sofreram de câncer de mama e que não podem tomar hormônios quando chegam à menopausa, ela disse que a dieta é a melhor aliada na redução dos sintomas dessa fase, além do exercício. "Quem pratica exercício, sofre menos com as ondas de calor", ensinou. Para alívio da secura vaginal, a opção são os lubrificantes; e para a pele os cremes alternativos, sempre prescritos por médicos.

"Toda mulher a partir dos 40 anos deveria procurar por orientação médica, no que diz respeito à taxa hormonal", opinia a presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, seção DF. É que a partir dessa idade, o hormônio que apresenta maior queda é o da tiróide, e hoje os exames laboratoriais indicam essa redução antes que a paciente apresente sintomas desconfortáveis. "Antes que a queda atinja a reserva mínima de que necessitamos", explicou. Pode-se evitar, com isso, acrescentou, até mesmo o desenvolvimento de doenças como a diabetes ao controlar, preventivamente, a queda na produção de insulina.