Maioria dos médicos de São Paulo considera atuação dos planos de saúde regular ou ruim

23/04/2013 - 18h13

Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - Cerca de 90% dos médicos, dentistas e fisioterapeutas que atuam no estado consideram que os planos de saúde interferem na autonomia profissional deles. A avaliação consta em uma pesquisa divulgada hoje (23) por associações das três categorias. Entre as interferências estão as dificuldades para autorização de procedimentos de alta complexidade, a não autorização de medidas terapêuticas e as restrições no tempo de internação dos pacientes.

Foram entrevistados 5 mil profissionais, distribuídos em pelo menos 22 especialidades médicas. O estudo foi feito pela Associação Paulista de Medicina (APM), pelo Conselho Regional de Odontologia de São Paulo e pela Federação Nacional de Associações de Prestadores de Serviço de Fisioterapia.

A pesquisa expõe grande insatisfação dos prestadores de serviços das três áreas. Entre os médicos, apenas 6% avaliam a atuação das operadoras de saúde como ótima (2%) e boa (4%), enquanto 48% classificam o serviço como regular e 46% como ruim/péssimo. Nenhum dos fisioterapeutas considerou o serviço das operadoras como ótimo ou bom. A classificação regular foi apontada por 38% dos entrevistados e a ruim/péssima por 62%.

A avaliação é ainda mais negativa entre dentistas. Quase 70% deles classificaram a atuação das operadoras de plano de saúde como ruim/péssima e 28% avaliaram como regular. Apenas 1% marcou a opção ótima e 2%, boa. "Traçamos um cenário do que ocorre hoje na saúde suplementar, deixando em evidência um quadro de muitas dificuldades. Vimos os conflitos existentes entre prestadores de serviço e operadoras e os prejuízos que eles causam especialmente para o usuário", avaliou Florisval Meinão, presidente da APM.

O estudo aponta que mais de 80% desses profissionais precisaram aumentar a carga de trabalho para suprir a defasagem dos honorários pagos pelos planos de saúde. "Definimos este ano um valor de R$ 60 para as consultas e conseguimos que algumas [operadoras] cumprissem, mas outras ainda pagam valores abaixo, algo entre R$ 30 e R$ 50", explicou João Ladislau Rosa, coordenador do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). Diante desse quadro, o estudo mostra também que 85% desses profissionais já se descredenciaram de planos por essa razão.

A baixa remuneração também tem desencorajado os médicos a adotarem procedimentos que impõem mais risco profissional. "O que se paga hoje por uma cirurgia é um valor tão irrisório que os médicos desistiram de fazer cirurgias, porque é uma atividade de grande complexidade e ele recebe quase a mesma coisa para ficar no consultório", explicou Meinão. De acordo com o presidente da APM, para um procedimento de retirada de amígdalas paga-se R$ 75, enquanto a consulta custa R$ 60, exemplificou.

Também é alto o percentual de médicos (86%), fisioterapeutas (91%) e dentistas (80%) que relataram casos em que os pacientes tiveram que recorrer ao Sistema Único de Saúde (SUS) diante dos obstáculos impostos pelos planos de saúde. Essas dificuldades para conseguir que a operadora autorize medidas terapêuticas têm feito crescer o número daqueles que recorrem à Justiça. "Entre os médicos, 79% tiveram pacientes que buscaram o tribunal", destacou Meinão, conforme dados da pesquisa.

Na próxima quinta-feira (25), os médicos de São Paulo vão paralisar por um dia os atendimentos dos planos de saúde. A atividade faz parte do Dia Nacional de Alerta aos Planos de Saúde que ocorre em todo o país. "Cada estado define de que forma vai ser a mobilização. Nós vamos fazer um ato na Avenida Paulista", disse Meinão. Ele destacou que serão suspensas as consultas agendadas e a orientação aos médicos é que os atendimentos sejam remarcados.

Entre as reivindicações que serão destacadas pelos médicos na manifestação, estão o reajuste dos honorários, regularização dos contratos para inclusão de cláusulas explícitas de reajustes e fim da interferência dos planos de saúde na autonomia dos médicos no exercício da profissão. "Também defendemos a aprovação de leis que tratem dessa questão, pois acreditamos que teremos mais segurança jurídica se houve uma legislação pertinente", explicou.

 

Edição: Carolina Pimentel

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