Intoxicação por medicamentos é responsável por 29% das mortes

18/05/2002 - 16h46

Brasília, 18 (Agência Brasil - ABr) - A intoxicação por medicamentos é responsável por 29% das mortes no Brasil e, na maioria dos casos, é conseqüência da auto-medicação. Ou seja, centenas de pessoas morrem vítimas da auto-medicação, da reação de algum remédio, que, muitas vezes, é feita nos balcões das farmácias, por funcionários que recebem comissões dos laboratórios. A informação é de Antônio Barbosa, presidente do Conselho Regional das Farmácias e coordenador do Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos (IDUM), em entrevista hoje, ao programa "Revista Brasil", da Rádio Nacional.

"Toda vez que um funcionário tentar vender medicamento, o consumidor deve chamar a polícia, pois o exercício ilegal da Medicina é crime previsto no artigo 282 do Código Penal", destaca Barbosa. Ele alerta que as maiores vítimas das receitas de balcão, são as crianças. "O funcionário prescreve as gotinhas com base no peso da criança e acaba dando uma superdose", explica. Segundo ele, a prescrição de remédios em balcões de farmácias e as propagandas de medicamentos que prometem milagres, induzem à compra e "passam imagem positiva, sem qualquer restrição de horário e até nas programações infantis, são vitórias dos laboratórios farmacêuticos sobre o consumidor".

Na opinião de Antônio Barbosa, ao permitir a propaganda de remédios o "Estado está desejando o mal para as pessoas. É a mesma coisa que fazer propaganda de caixões para defuntos. Este é melhor,aquele é maior". A propaganda de remédios nos meios de comunicação, especialmente na televisão, disse, é uma coisa rara no mundo e "muito mais em países onde a população não é bem informada sobre o assunto. A população compra remédios sem prescrição médica. E esta prática é uma vitória dos laboratórios em cima da Vigilância Sanitária", ressaltou.

Barbosa recomenda que, nas consultas, o paciente converse muito com o médico sobre a receita e peça que dê alternativas, substitutos ao remédio receitado. Em caso de dúvida, o consumidor deve procurar o farmacêutico responsável. Cada farmácia é obrigada a manter um profissional em todos horários em que estiver com as portas abertas.

Todo medicamento tem efeito colateral, alerta Barbosa ao comentar os casos do Melhoral, Engov, Alka Selser, Sonrisal, Doril e outros que compostos por ácidoacetilsalicílico provocaram até à morte em alguns doentes contaminados pelo mosquito da dengue. "Esses medicamentos a gente acha que é bobagem mas têm efeito colateral. Eles possuem anti-agregante-plaquetário que causa o derrame nos doentes de dengue". Segundo ele, esses remédios também não podem ser consumidores com ingestão de bebida alcóolica. "E a propaganda não restringe ao uso de álcool. Não existe medicamento inocente, sem efeito colateral".

Barbosa reconhece que o alto preço dos remédios acaba contribuindo para a chamada "empurroterapia" dos balcões, quando são oferecidos aos consumidores produtos mais baratos. Esse problema, na sua opinião, somente vai acabar quando o Governo implantar um receituário próprio e comum para as pessoas que não podem comprar remédios. "Uma política de atendimento a esta população seria até financeiramente mais produtivo ao Estado. Além de favorecer a balança comercial (reduzir importações), haveria menos internações. No Brasil 30% das internações hospitalares são resultado da falta de conclusão do tratamento. O doente não tinha dinheiro para comprar o remédio", informa.

Barbosa informa que de 19 a 22 de junho, em João Pessoa(PB), será realizado o Primeiro Congresso Internacional em Defesa dos Usuários de Medicamentos. No evento, será lançado o Código do Usuário de Medicamento, que envolverá o Código de Defesa do Consumidor até a Lei Sanitária. (Célia Scherdien)