Ceará. São paulo https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//taxonomy/term/148569/all pt-br CPI do Tráfico de Pessoas ouve acusada de aliciar travestis https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//noticia/2012-11-29/cpi-do-trafico-de-pessoas-ouve-acusada-de-aliciar-travestis <p> Fernanda Cruz<br /> <em>Rep&oacute;rter da Ag&ecirc;ncia Brasil</em></p> <p> <img alt="" src="https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//sites/_agenciabrasil/files/imagecache/300x225/gallery_assist/26/gallery_assist708980/prev/Agencia%20Brasil291112MCSP02.JPG" style="width: 300px; height: 225px; margin: 4px; float: right;" />S&atilde;o Paulo &ndash; A Comiss&atilde;o Parlamentar de Inqu&eacute;rito (CPI) do Tr&aacute;fico de Pessoas interrogou hoje (29) Telma Rodrigues do Nascimento, acusada de chefiar um esquema que busca travestis no Par&aacute; e no Cear&aacute; para serem explorados no estado de S&atilde;o Paulo.</p> <p> Telma responde pelos crimes de facilita&ccedil;&atilde;o &agrave; prostitui&ccedil;&atilde;o e rufianismo, que significa explora&ccedil;&atilde;o para obten&ccedil;&atilde;o de lucro por meio da prostitui&ccedil;&atilde;o alheia. A acusada foi presa ap&oacute;s o desmantelamento de uma rede descoberta em fevereiro de 2011 pela Pol&iacute;cia Civil paulista. Telma, que obteve liberdade provis&oacute;ria, concedida pelo juiz Eduardo Pereira dos Santos J&uacute;nior, aguarda julgamento do caso.</p> <p> Acompanhada pela advogada Adriana Criniti, Telma respondeu &agrave;s perguntas do presidente da CPI, deputado federal Arnaldo Jordy (PPS-PA). Segundo relatos dos travestis que denunciaram Telma, a acusada obrigava que as v&iacute;timas fizessem uma quantidade m&iacute;nima de programas, al&eacute;m de castig&aacute;-las fisicamente. Telma tamb&eacute;m seria respons&aacute;vel por intermediar cirurgias feitas&nbsp; por &ldquo;bombadeiras&rdquo; (pessoas que vendem servi&ccedil;os de aplica&ccedil;&atilde;o clandestinas de silicone, muitas vezes utilizando silicone industrial).</p> <p> Telma defendeu-se&nbsp; das acusa&ccedil;&otilde;es dizendo que apenas tinha duas pens&otilde;es, mas n&atilde;o explorava as travestis. &ldquo;Eu tenho a pens&atilde;o, mas eu alugo vagas. Eu n&atilde;o fa&ccedil;o nada de mandar buscar ningu&eacute;m. O que eles [travestis] fazem da porta para fora, eu n&atilde;o posso fazer nada&rdquo;, disse.</p> <p> Na opera&ccedil;&atilde;o da Pol&iacute;cia Civil que culminou na descoberta do esquema comandado por Telma, uma das pens&otilde;es, localizada na Rua Herm&iacute;nio Lemos, 340, abrigava seis adolescentes e 20 adultos. Telma, por&eacute;m, negou a exist&ecirc;ncia desse n&uacute;mero de menores de idade em sua pens&atilde;o, admitindo que apenas um deles poderia ter menos de 18 anos, mas que ela&nbsp; teria sido enganada por um documento falso. &ldquo;O adolescente que aparece no inqu&eacute;rito ficou na minha casa sim, mas estava com documento falso&rdquo;, disse.</p> <p> A resid&ecirc;ncia, de acordo com Telma, tem tr&ecirc;s quartos, onde 15 travestis ocupavam beliches e pagavam R$ 20 por uma di&aacute;ria que dava direito &agrave; alimenta&ccedil;&atilde;o e hospedagem. A acusada disse que adquiriu o im&oacute;vel que pertencia a um homem, ao qual se referiu apenas por&nbsp; &ldquo;Alem&atilde;o&rdquo;. Telma teria pago R$ 6 mil pela casa, j&aacute; que seria um im&oacute;vel invadido e ela teria ficado com a resid&ecirc;ncia por quatro meses.</p> <p> A outra pens&atilde;o, localizada em uma esquina da Rua Santa Efig&ecirc;nia, segundo Telma, tem dois quartos e, nela, ficam sete travestis. A propriedade &eacute; alugada por Telma por um valor de R$ 1 mil e a cobran&ccedil;a da di&aacute;ria feita aos h&oacute;spedes &eacute; R$ 30. &ldquo;Esse neg&oacute;cio de falar que eu ganho dinheiro com a prostitui&ccedil;&atilde;o, eu n&atilde;o ganho. Ganho com a moradia&rdquo;, defendeu-se.</p> <p> Embora tenha nascido em Bel&eacute;m (Par&aacute;) e ter fam&iacute;lia na cidade, Telma disse n&atilde;o conhecer anteriormente os travestis belenenses que residiam em sua pens&atilde;o. Ela negou tamb&eacute;m que seu irm&atilde;o, conforme consta nos autos do processo, tenha participa&ccedil;&atilde;o no envio dos travestis a S&atilde;o Paulo. Telma disse apenas que aos conterr&acirc;neos dirigiam-se &agrave;s suas pens&otilde;es por indica&ccedil;&atilde;o de companheiros de trabalho, que se conheciam por meio da prostitui&ccedil;&atilde;o nas ruas.</p> <p> Os programas sexuais feitos pelos travestis, segundo a acusada, tamb&eacute;m n&atilde;o ocorriam dentro das suas pens&otilde;es. &ldquo;L&aacute; na pens&atilde;o n&atilde;o entra homem. O que eles [travestis] fazem da porta para fora &eacute; problema deles. Eu n&atilde;o sei o que fazem&rdquo;, disse Telma.</p> <p> Telma negou que participasse de um esquema de recebimento de comiss&otilde;es em opera&ccedil;&otilde;es pl&aacute;sticas. &ldquo;Se fizesse isso eu teria dinheiro. Eu n&atilde;o tenho dinheiro, eu n&atilde;o tenho carro, n&atilde;o tenho nada. Eu vivo das minhas costuras&rdquo;.&nbsp; Ela declarou que indicou apenas a uma das travestis, citada como Emanuele, um cirurgi&atilde;o chamado Jair, que atende no bairro Santa Cruz. Emanuele desejava colocar silicone nos seios.</p> <p> A acusada disse que conheceria Jair em fun&ccedil;&atilde;o de uma pl&aacute;stica que teria interesse em fazer, no nariz. &ldquo;N&atilde;o fiz porque tenho medo de inje&ccedil;&atilde;o&rdquo;, disse. Ao longo do depoimento, no entanto, Telma entrou em contradi&ccedil;&atilde;o e acabou admitindo que levou outros travestis a esse cirurgi&atilde;o.</p> <p> <img alt="" src="https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//sites/_agenciabrasil/files/imagecache/300x225/gallery_assist/26/gallery_assist708980/prev/Agencia%20Brasil291112MCSP09.JPG" style="width: 300px; height: 225px; margin: 4px; float: left;" />Para o presidente da CPI, deputado federal Arnaldo Jordy (PPS-PA), essa n&atilde;o foi a &uacute;nica contradi&ccedil;&atilde;o nas respostas de Telma. &ldquo;O depoimento dela &eacute; torrencialmente farto de contradi&ccedil;&otilde;es. Ela, na minha opini&atilde;o, complicou-se em v&aacute;rias situa&ccedil;&otilde;es&rdquo;, disse. Segundo Jordy, o esquema de Telma, que torna jovens ref&eacute;ns de uma condi&ccedil;&atilde;o de aliciamento, no qual os travestis chegam ao seu destino como devedores, faz parte de uma rede com poss&iacute;veis ramifica&ccedil;&otilde;es internacionais.</p> <p> &ldquo;Ela [Telma] nos deu algumas pistas que podem evidenciar uma rede, uma organiza&ccedil;&atilde;o, um sistema que acaba capturando jovens vulner&aacute;veis do ponto de vista econ&ocirc;mico, socioafetivo e da solidez familiar&rdquo;, disse.</p> <p> A delegada da Pol&iacute;cia Civil da 1&ordf; Delegacia de Prote&ccedil;&atilde;o &agrave; Pessoa (DPP), Nilze Scapulatiello, disse que o nome de Telma constava em v&aacute;rios inqu&eacute;ritos. Ela constatou relatos muito semelhantes das v&iacute;timas, como o depoimento de um travesti feito &agrave; delegada: &quot;A Telma que me trouxe para c&aacute;, ela me deu dinheiro. Se eu fico doente, tenho que trabalhar. Se n&atilde;o trabalhar todos os dias, eu fico para fora. Se eu n&atilde;o trabalho, sou espancado&quot;. Os inqu&eacute;ritos apontavam, de acordo com ela, a responsabilidade de Telma no transporte das v&iacute;timas, no trabalho sexual for&ccedil;ado e nos espancamentos.</p> <p> <em>Edi&ccedil;&atilde;o: F&aacute;bio Massalli</em></p> bombadeiras Ceará. São paulo CPI CPI do Tráfico de Pessoas julgamento Nacional Pará prostituição rufianismo silicone travesti Thu, 29 Nov 2012 23:49:02 +0000 fabio.massalli 709005 at https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/