Pesquisadora diz que UPP não zerou confrontos, mas tiroteios diminuíram

30/12/2013 - 10h04

 

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – A política de implantação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) - iniciada há cinco anos, em dezembro de 2008, com a ocupação do Morro Dona Marta, em Botafogo – não reduziu totalmente os confrontos envolvendo traficantes mas fez diminuir muito os tiroteios. O mapa de conflitos mostra que embora hoje existam trocas de tiros nestas regiões,  a política de segurança tem sido bem sucedida.

A visão é da pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) Joana Monteiro, autora de recente estudo intitulado Os Efeitos da Política de Pacificação sobre os Confrontos entre Facções de Drogas no Rio de Janeiro. Ela sustenta que nos locais onde foram instaladas as UPPs os índices de criminalidade despencaram.

“A política de pacificação é o início para lidar com o problema complexo da violência e do controle de território por grupos armados. Esta política é uma conquista enorme, uma evolução com visão a  longo prazo. A gente não zerou o confronto entre traficantes, não acabou com o tiroteio, mas diminuiu substancialmente”, explicou.

Em uma série histórica iniciada em 1991, a pesquisadora aponta o ano de 1994 como o mais violento na cidade, com 74 homicídios para cada 100 mil habitantes. Em 2012, quatro anos após o início da implantação de UPPs a taxa caiu para 19 mortes por 100 mil habitantes.
 
“A política de pacificação tem dois objetivos: retomar o controle de territórios de grupos armados e acabar com a lógica de guerra entre facções no Rio. Estes confrontos armados estão diminuindo e temos evidências claras com os dados do Disque Denúncia, em que as pessoas reportam a ocorrência de tiroteios, para mostrar que nas áreas pacificadas está havendo uma redução na quantidade de confrontos relatados”, disse.

A economista reconhece que está ocorrendo  um tipo de migração do tráfico de áreas pacificadas para outras mais distantes, onde não houve ocupação policial: “Existem evidências de que têm bandidos indo de um local para outro, mas isso é pequeno”.
Ela ressalta que é preciso entender as UPPs como políticas de segurança e que outras ações sociais devem ser tomadas pelo estado para garantir o território.

“UPP é política de segurança. A ação precisa ser acompanhada de outras iniciativas. A área social demora muito está engatinhando. São resultados que demoram a aparecer. Mas temos que ter cuidado, porque no Rio sempre houve um discurso de que o problema era social e não de segurança. Isso também era perigoso, pois o problema do Rio era sim de segurança que precede a intervenção social.”

Joana adverte para o perigo de desqualificar a polícia como ocorreu nos últimos meses, desde o caso do pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido na Rocinha após ter sido levado para a sede da UPP local.  O fato teve repercussão nas manifestações de rua iniciadas em junho. Isto, segundo ela, acaba influenciando o comportamento de criminosos que passam a enfrentar a polícia em comunidades até então pacificadas.

“O sucesso da política de pacificação é muito importante para determinar como o criminoso vai se comportar. Ele precisa acreditar que a ação é uma coisa sólida, que o Estado está presente para  inibir.  A gente vem de um processo recente de desqualificação da polícia muito acentuado e isto reflete na capacidade do criminoso botar as manguinhas de fora e querer se manifestar. Outro aspecto é que se entrou em áreas muito complicadas, como na Rocinha e no Alemão. São mercados muito importantes [de drogas] que os traficantes não vão abrir mão tão fácil”, observou.

Edição:  Valéria Aguiar

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