Melhorar qualidade do Galeão passa por mudanças em gestão, serviços e segurança, dizem especialistas

30/11/2013 - 12h15

Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Com mais de 450 prêmios pela qualidade de seus serviços e um histórico de sucesso na administração de um dos melhores aeroportos do mundo – o de Cingapura – o grupo Changi terá grandes desafios para dar qualidade similar ao Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro/Galeão – Antonio Carlos Jobim. Subsidiária da Changi Airport Group, a Changi International é uma das integrantes do consórcio que venceu a licitação do aeroporto carioca.

“Cingapura é o melhor aeroporto do mundo em termos de logísticas operacionais e comerciais, passando por gestão”, avalia o consultor de gestão e planejamento de aeroportos Adir da Silva. Segundo ele, a experiência da Changi será fundamental para amenizar muitos dos problemas do Galeão.

O primeiro grande desafio, explica Silva, será promover uma transformação no gerenciamento do aeroporto, que atualmente está engessado e com quadro de funcionáios envelhecido devido ao plano de demissão voluntária feito pela Infraero. “Isso esvaziou o quadro do aeroporto, que já pressentia falta de treinamento dos trabalhadores. Será também necessário atualizar tecnologias que foram adquiridas há até 30 anos”, disse.

Outro desafio apontado por Santos é desaparelhar politicamente alguns quadros. “A Infraero ficou politizada no sentido partidário, o que resulta em aparelhamento dos quadros. Há muitas pressões políticas que não costumam ser abordadas pela mídia. É um problema real do Galeão”, enfatiza.

Professora do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em planejamento de transportes, Yaeko Yamashita destaca, como desafios para a nova administração do aeroporto, a melhoria da qualidade dos serviços e a segurança. Nesses aspectos, disse, o Galeão “deixa muito a desejar”.

A expectativa, segundo Yaeko, é que, com a concessão, se ganhem agilidade e facilidades para serviços como os de hotelaria e estacionamento, entre outros. Ela avalia que falta também integração entre áreas e planejamento da circulação e dos espaços de serviço.

“Uma das questões mais preocupantes é a segurança, tanto nos procedimentos de embarque como nas áreas de circulação dos passageiros. Volta e meia as TVs mostram pessoas bem vestidas fazendo roubos. Isso poderá ser combatido por meio de monitoramento [feito por câmeras]”, sugere a especialista.

A ocupação de áreas próximas ao Galeão também preocupa. “Toda a região está ocupada, inclusive por favelas. Em termos físicos da operação, prédio e moradores poderão ser problema no futuro. Algo que poderia ter sido evitado, mas não foi, caso houvesse um acompanhamento mais de perto, por parte das autoridades locais, do plano diretor do aeroporto”, avalia Yaeko.

O barulho dos aviões é uma das queixas das comunidades próximas. Para Adir da Silva, esse problema pode resultar em algo bom: mais recursos para o Poder Público encontrar solução para a desocupação das áreas próximas. “Ao aplicar multas e tarifas relacionadas com o meio ambiente, pode-se adotar a estratégia de criar um fundo com o objetivo de, aos poucos, ir comprando esses imóveis”, disse.

Os dois especialistas consideram que o ponto mais positivo da concessão será dar mais agilidade às obras do empreendimento. “Temos visto que as concessionárias, pelo menos em termos de obras, são muito mais ágeis do que a iniciativa pública”, avalia Yaeko. “A transformação será completa porque abrangerá gestão, adequação, correções, tecnologias mais modernas”, acrescentou Adir.

“Apesar de a quantidade de radares não estar entre as responsabilidades da concessionária, ela terá de lidar também com essa situação, inclusive cobrando das autoridades [a aquisição dessa ferramenta] para diminuir os vazios existentes no espaço aéreo”, completou Yaeko.

Contatada pela Agência Brasil, a Changi informou, por e-mail, que o investimento feito no Galeão representa “um passo importante para a expansão de negócios internacionais da empresa”. Segundo o chefe executivo da Changi International, Lim Liang Song, empresa e parceiros estão “comprometidos” a fornecer uma infraestrutura que ofereça uma experiência positiva e agradável aos passageiros.

“Queremos compartilhar a experiência que o Changi Airport Group adquiriu na gestão de Cingapura e dos nossos investimentos aeroportuários e consultoria em outros lugares”, disse.

Edição: Fábio Massalli

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