Manifestações de junho tiraram o foco dos grandes eventos que o Brasil recebeu em 2013, avaliam pesquisadores

18/09/2013 - 20h56

Akemi Nitahara
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – A espontaneidade, a diversidade e a falta de lideranças marcaram as manifestações que ocorreram no país em junho. Para o professor Marcos Cavalcanti, da Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o povo foi às ruas em outras ocasiões no Brasil, como na campanha Diretas Já e no impeachment de Fernando Collor da Presidência da República, mas a diferença é que, desta vez, não houve convocação de partidos ou movimentos e nem palanques.

“No meu ponto de vista, essas manifestações abalaram o Brasil e vão ficar na memória desses jovens e de quem participou delas, porque, pela primeira vez na história deste país, milhões foram às ruas sem uma liderança claramente identificada, ninguém foi assistir a um comício, como nas diretas, não tinha palanque, não tinha uma faixa, e a rejeição aos partidos era explícita”, disse.

De acordo com ele, foi possível perceber a diversidade social e também de reivindicações. “Mas, para mim, tinha uma mensagem muito clara: esses partidos e essas representações não nos representam, estamos cansados da corrupção, nós queremos serviço público de qualidade, transporte, saúde e educação padrão Fifa [Federação Internacional de Futebol]”, declarou.

O professor de ciências sociais Luiz Eduardo Soares, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) ressaltou que as manifestações ocorreram porque o Brasil se desenvolveu. “O Brasil avançou, os cidadãos se sentiram potencializados, aprenderam a linguagem da cidadania, viveram a possibilidade da redução da desigualdade e da ascensão, viveram a possibilidade de redução das perdas, da inflação e crise no horizonte que ocorreram para isso, e nesse contexto, sentindo-se potencializados, em função das dinâmicas da sociedade que de fato carreavam esse espírito, eles se afirmaram autonomamente”, disse.

Para o professor da Uerj, o desafio de entender esse fenômeno e analisar os fatos sob uma ótica tradicional ocorre pela originalidade das manifestações. “Os fenômenos novos, portanto singulares, apreendidos pela projeção dos sistemas categoriais tradicionais revelam-se precários e lacunosos. Eles não são organizados, não têm liderança, não têm nacionalidade, não têm propósito, não têm bandeira, não têm tradição, a lista é infindável”.

Na avaliação de Soares, 2013 seria marcado pela Copa das Confederações e pela visita do papa Francisco, mas as manifestações “roubaram a cena”. “Esse se tornou o ano de junho, o ano das manifestações. Houve um sequestro do grande evento, confinados às arenas caríssimas, valorizados por todos os investimentos, com ingressos que passaram a filtrar os consumidores participantes. O grande evento agora tem outra sede, o jogo é outro, é a rua. Os protagonistas são os que estão na rua, é a sociedade. Com esse deslocamento de foco simbólico e político, com grande impacto econômico e social, nós redesenhamos essa agenda”.

Os dois professores participaram da sessão especial do Fórum Nacional, que discute até amanhã (19) os temas Estratégia de Desenvolvimento Industrial e O Povo Vai às Ruas.

 

Edição: Aécio Amado

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