Ato lembra os 33 anos do atentado à OAB do Rio

27/08/2013 - 17h53

Da Agência Brasil

 

Rio de Janeiro – Integrantes da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro e da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) participaram hoje (25) de ato para lembrar os 33 anos do atentado contra a instituição, que provocou a morte da secretária Lyda Monteiro. O encontro foi na Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio.

Lyda Monteiro morreu ao abrir uma carta-bomba endereçada ao então presidente da Seccional da OAB no Rio, Seabra Fagundes. O atentado ocorreu no dia 27 de agosto de 1980 e até hoje não foi esclarecido.

Investigações feitas pela Comissão da Verdade indicam que a carta-bomba teria sido enviada por agentes do regime militar na tentativa de forjar um ataque de grupos de extrema direita.

Segundo o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, Wadih Damous, o inquérito que apurou o atentado na época foi uma farsa montada pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), apoiado pelo Destacamento de Operações de Informações-Centro de Defesa Interna (DOI-Codi). "A OAB sempre defendeu os interesses da população. E, durante o regime militar, sempre esteve ao lado de presos políticos atuando diretamente na Justiça Militar." Em 1980, a ditadura "já estava enfraquecida, mas os comandantes enxergavam na OAB uma ameaça a esse controle antidemocrático", disse Damous.

Passados 33 anos do atentado, o advogado Luiz Felipe Monteiro, filho de Lyda, ainda espera a divulgação do nome dos envolvidos na morte da mãe. "Trabalho todos os dias na esperança de poder descobrir o que de fato aconteceu. Espero que as investigações sobre o caso sejam retomadas e que a justiça finalmente seja feita", disse o advogado.

Na época do atentado, o americano Ronald Waters foi apontado como autor do crime, mas Seabra Fagundes, a quem a carta-bomba foi endereçada, discorda da apuração feita pela polícia. Para ele, o americano, que era ligado a grupos militares, foi usado como "isca em um esquema muito maior". O ex-presidente da OAB disse que as investigações nunca foram levadas à frente e que, agora, o trabalho vai começar do zero, pois o próprio inquérito foi inconclusivo. "Temos muitas coisas para esclarecer", afirmou Fagundes.

Segundo ele, a Comissão da Verdade vai investigar todos os casos de explosões suspeitas ocorridas no período da ditadura (1964-1985). Uma das linhas de investigação é sobre as possíveis ligações entre a explosão de 1980 na OAB e o atentado do Riocentro, ocorrido em 30 de abril de 1981, que teria sido uma tentativa frustrada de setores militares para desestabilizar o processo de abertura política. Na ocasião, a bomba que deveria ter sido detonada durante um show no Riocentro explodiu dentro de um carro estacionado no local, matando o sargento Guilherme Pereira do Rosário e ferindo o capitão Wilson Dias Machado.

Para Seabra Fagundes, há indícios de que os dois episódios tenham tido ligações "em termos de autoria e articulação de mando". A  Comissão da Verdade do Rio pretende investigar também o desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva e a ligação entre empresários e o regime militar.

Edição: Nádia Franco

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