Ato pede que equipamentos esportivos no entorno do Maracanã não sejam demolidos

10/07/2013 - 23h03

Akemi Nitahara
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – Um ato contra a demolição do Parque Aquático Julio de Lamare, o Estádio de Atletismo Célio de Barros e Escola Municipal Friedenreich reuniu um grupo de pessoas no começo da tarde de hoje (10) em frente ao Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã. A demolição está prevista no projeto do governo estadual para a revitalização da região do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014.

A estudante Bárbara Dantas da Costa, de 15 anos, treinava atletismo no Célio de Barros e declarou que a equipe está desde março sem local para se preparar para as competições. "Nós ficamos treinando na Quinta da Boa Vista [parque público no bairro de São Cristóvão], na rua, às vezes no Engenhão [Estádio Olímpico João Havelange, no bairro Engenho de Dentro], no Vasco [Estádio de São Januário], porque a gente não pode ficar parado, temos competições, campeonatos, e temos de treinar de qualquer jeito. É muito triste terem tirado o Célio de Barros da gente, porque é um patrimônio não só para os atletas, mas para o Brasil", disse.

A pensionista Solange Souza, de 67 anos, fazia parte do grupo de hidroginástica do Júlio de Lamare, dentro do Projeto de Iniciação Desportiva (PID), da Secretaria de Estado de Esporte e Lazer, e também está sem se exercitar desde março. "Eles acabaram com esse projeto, que era para as crianças especiais, idosos, e até agora não saiu nada, desde março está tudo parado. Ninguém direcionou a gente para lugar nenhum, mais de 200 pessoas deram os nomes, telefone, mas até agora ninguém retornou nada".

O professor Carlos Ehlers, que representa a comissão de pais, alunos e ex-alunos da Escola Municipal Friedenreich, que tem previsão de ser demolida após o ano letivo, disse que vários projetos, como a sala de recursos para portadores de necessidades especiais, serão perdidos com a mudança. A escola tem 400 alunos e é a décima melhor do Brasil no segmento educação básica e a quarta do Rio, segundo a nota do Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica]. "Nós estamos tentando evitar agora de qualquer jeito a derrubada da escola e manter todo o entorno do estádio que, além de histórico, é cultural e tem toda uma memória da coletividade do Maracanã", declarou.

O presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Coaracy Nunes, ressaltou que o Parque Aquático Julio de Lamare está em plenas condições de receber qualquer competição. "Está absolutamente novo, eu posso fazer agora aí [no parque aquático] uma competição internacional, os atletas podem imediatamente cair na piscina para fazer o treinamento deles. Isto é um absurdo. Estou mandando atletas de salto treinar na China, os outros atletas de nado sincronizado estão treinando no Maria Lenk [parque aquático na Barra da Tijuca], mas ele vai fechar em janeiro, então não vamos ter nem o Júlio de Lamare nem o Maria Lenk", disse.

O defensor público federal André Ordacgy explicou que a Defensoria Pública da União (DPU), a CBDA e a Federação de Atletismo do Rio de Janeiro (Farj) têm cobrado uma posição do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, sobre a questão. "Eu tenho ligado constantemente para o gabinete dele, estamos aguardando uma solução por parte do governo federal sobre este descalabro que está acontecendo com o Júlio de Lamare e o Célio de Barros, duas importantes instalações esportivas que o governo do estado vem ameaçando com demolição, para fazer um complexo de entretenimento. O esporte sempre foi o entretenimento do brasileiro e tem que ser valorizado".

De acordo com Ordacgy, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) não revogou a autorização para a derrubada dos dois equipamentos esportivos, mas já proibiu a construção de um shopping e um edifício-garagem no entorno do estádio. "Então, para que demolir duas instalações esportivas que guardam a memória do esporte brasileiro, de nível nacional e internacional, onde os atletas se preparam, onde a comunidade usufrui, a terceira idade é atendida, as pessoas com necessidades especiais usam: demolir para que?”

O defensor informou a DPU e as entidades esportivas vão levar uma representação contra a demolição ao Comitê Olímpico Internacional (COI) e ajuizar uma ação civil pública na Justiça Federal, "como última cartada, se for o caso", para evitar a demolição. Segundo Ordacgy, uma liminar vigente na Justiça Estadual proíbe que os dois equipamentos esportivos sejam jogados no chão.

Uma avaliação técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) constatou que a derrubada dos atuais prédios do entorno do Maracanã não prejudica o bem tombado, que é o estádio. Portanto, não há objeção quanto à retirada dos equipamentos. O instituto confirma que um shopping e um edifício-garagem prejudicariam a visibilidade do estádio, portanto, não são permitidos, informou o defensor.

Procurada pela reportagem, a Casa Civil do governo estadual declarou que não responde mais pelo complexo esportivo, que agora está sob a responsabilidade do consórcio responsável pelo Maracanã. O consórcio foi procurado pela Agência Brasil, mas não respondeu até o fechamento da matéria.

A Secretaria de Estado de Esporte e Lazer informou que realocou, em janeiro, os alunos de atletismo para treinamento no Engenhão e que a interdição do local não afetou as aulas. De acordo com a secretaria, os atletas do Julio de Lamare são de responsabilidade da CBDA, mas o órgão está verificando a viabilidade de eles poderem utilizar a Escola Naval e o Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes. A secretaria também informou que o PID não existe mais e que está providenciando a realocação dos usuários dos dois equipamentos esportivos com a Federação de Clubes do Rio.

 

Edição: Aécio Amado

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