Abin e serviços de inteligência estrangeiros não identificam ameaça de terrorismo à Copa das Confederações

14/06/2013 - 14h13

Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Por lidar com grande quantidade de informações sigilosas, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) não tem por hábito tornar públicas as atividades e ações feitas com o objetivo de produzir o conhecimento necessário para que a Presidência da República defina as políticas do país para o setor.

Apesar disso – e motivado pelos serviços prestados para garantir que a Copa das Confederações transcorra da melhor forma possível – o diretor-geral da Abin, Wilson Trezza, abriu uma exceção e falou com exclusividade à Agência Brasil sobre o papel da entidade para os grandes eventos sediados no país. Aos torcedores e turistas que visitam o Brasil por conta dos jogos, ele envia uma mensagem otimista.

“Com base nas avaliações de risco e no trabalho de inteligência que há anos estamos desenvolvendo com todo o sistema de inteligência do país; com base também no intercâmbio de informações com serviços de inteligência de vários países do mundo, e nos demais levantamentos que fizemos até o momento, temos a ousadia de dizer que acreditamos que a Copa das Confederações vai acontecer em um clima de segurança e tranquilidade. Os nacionais e os estrangeiros que estiverem no Brasil por ocasião desse evento vão desfrutar de todos os benefícios e hospitalidades do Brasil, bem como das belezas que o país oferece, em um clima de segurança”, disse à Agência Brasil o diretor do órgão responsável por coordenar as atividades de inteligência do país.

Trezza, no entanto, acrescenta que a atividade de inteligência não é exercício de futurologia nem de adivinhação e que, em termos de ameaças, ninguém, em nenhum país do mundo, pode garantir com 100% de certeza que nada acontecerá. “Não existe, nessa área, risco zero, mas temos uma atividade altamente especializada e lidamos com o imprevisível e com o imponderável”, disse.

“Mas até o momento, acredito que as nossas perspectivas são bastante boas. Caso aconteça algo imprevisto, estamos preparados com planos de contingência, tanto de inteligência como nas áreas de defesa e de segurança pública, para minimizar efeitos e transtornos para a sociedade e para o Estado brasileiro”, acrescentou.

Além de pesquisar cerca de 200 mil pessoas credenciadas pela Fifa – de forma a evitar que criminosos, integrantes de organizações terroristas, extremistas ou mesmo desequilibrados estraguem a festa – a Abin teve, ainda, de preparar diversos relatórios de riscos para as seis cidades que sediarão os jogos, e de entrar em contato com quase uma centena de serviços de inteligência para saber se há risco de o Brasil ser alvo de ataques terroristas.

Segundo ele, por ser um país pacífico, cordial, e por ser o brasileiro um povo “receptivo, amigável e amistoso”, o Brasil nunca foi considerado um país-alvo do terrorismo internacional. “Mas embora não sejamos alvo, podemos ser palco do terrorismo, em função da presença de delegações de países que estão em conflito com organizações terroristas. Até porque, é mais fácil atingir alvos desses países fora de seus territórios”, informou Trezza.

A Abin mantém contato com 82 serviços de inteligência ao redor do mundo. Além disso, criou um centro de inteligência de serviços estrangeiros, para integrar representantes de serviços de inteligência de diversos países, em especial os mais preocupados com suas delegações. “A área de terrorismo talvez seja uma das únicas em que não haja sonegação de dados. Quando os países têm a informação e têm um nacional seu em risco em outro lugar, eles passam os dados que têm”, disse o diretor-geral.

Segundo Trezza, “até o momento não temos nenhum indício de que algum ato terrorista esteja sendo planejado”. Por isso, a agência não considera essa ameaça como uma das relevantes à Copa das Confederações. “Temos outras ameaças mais importantes. Mas isso não significa dizer que o terrorismo não esteja entre nossas preocupações. Consideramos, sim, uma ameaça, e trabalhamos nesse sentido. Apenas não é, na ordem de prioridades da Abin, a maior ameaça para o evento”, completou.

Na lista de categorias que geram maior preocupação à Abin, estão crime comum, grupos de pressão, manifestações públicas e problemas de trânsito. Os relatórios preparados pela agência abordam situações como as condições de segurança de hotéis, aeroportos e de trechos de deslocamento. Aborda também questões de mobilidade urbana, segurança dos estádios e de infraestruturas críticas e estratégicas do país. Dessa forma, a agência busca evitar, por exemplo, casos de pane ou sabotagem que comprometam o fornecimento de energia, água e dos demais serviços considerados essenciais.

“Nos preocupamos também com manifestações de grupos internacionais, como os separatistas, que podem vir, não para prejudicar o Brasil, mas para divulgar uma causa, aproveitando o fato de a mídia estar fazendo uma cobertura intensiva do evento”, acrescenta.

Caso aconteçam problemas, a Abin já têm, preparados, planos de contingência para suprir deficiências ou necessidades. Esses planos serão coordenados, de forma integrada, a partir de seis centros de inteligência instalados nas cidades-sede, cinco centros de inteligência regionais e um centro de inteligência nacional, em Brasília.

“Manifestações podem ser legítimas e legais, mas nosso objetivo é que elas aconteçam sem prejudicar o evento. Se tiverem a capacidade de organização e conseguirem se manifestar, transmitir a mensagem sem atrapalhar o evento, não há problema. Mas de preferência na rua. Não no estádio”, completou.

Ao divulgar informações sobre as ações da agência para dar segurança aos eventos que colocarão o Brasil no centro das atenções do planeta, a Abin tenta também mudar a imagem que carrega devido às atividades praticadas pelo antigo Serviço Nacional de Inteligência (SNI) durante o período da ditadura.

“Infelizmente, a atividade de inteligência ainda vive sob a sombra de um passado que não passa. É muito importante que as pessoas saibam que hoje a Abin atua sob regras muito bem definidas, que passam longe do que era feito naquela época”.

Edição: Davi Oliveira

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