Estradas precárias dificultam acesso à saúde e escoamento da produção em Raposa Serra do Sol

17/04/2013 - 17h18

Luciano Nascimento
Enviado Especial da Agência Brasil/EBC

Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR) – Percorrer os caminhos que cortam Raposa Serra do Sol é uma aventura digna de um rally. Estradas de terra batida esburacadas, pontes de madeira precárias põem em risco a vida dos moradores e dificultam o socorro para quem tem necessidade de serviços de saúde, além de dificultarem o escoamento da produção. Os índios reclamam que, depois da retirada dos arrozeiros, o governo estadual deixou de fazer a manutenção das vias que cortam a região.

A reclamação sobre a falta de manutenção das estradas é constante. Em geral, os índios levam até quatro horas para percorrer de carro uma distância de 60 quilômetros. “A dificuldade que a gente enfrenta na minha comunidade, na comunidade de Cumanã, é com o transporte, para escoar a produção. Porque o que nós produzimos lá não tem como escoar, para trazer para outras comunidades”, contou à Agência Brasil, o tuxaua da comunidade Cumanã, Tarzan Alves. Tuxaua é a designação que os índios macuxi dão a seus líderes. A comunidade planta batata, mandioca, milho e banana, mas não tem como escoar a produção.

“Quando foi a época da luta, o governo do estado disse que ia tirar as estradas, que ia tirar a educação e a gente viu isso. Com certeza vocês passaram por essas estradas. Tem muita buraqueira” reclamou Abel Lucena da Silva, o coordenador da Região da Serra, uma das oito que compõem Raposa Serra do Sol.

A falta de apoio do governo estadual à construção e manutenção das escolas e postos de saúde também é motivo de reclamação dos índios. “Hoje tem umas construções das nossas escolas em que só existe a base. A saúde, o posto de saúde é construído pela própria comunidade”, observa o líder.

Os índios contam com os agentes de saúde indígenas para tratar das doenças mais simples. Eles também apostam na medicina tradicional, praticada pelos pajés e benzedeiras. Contudo, quando existe um caso mais grave, o pedido de socorro é feito pelo rádio. É neste momento que as estradas precárias se transformam em um problema. Devido à dificuldade de acesso, geralmente, os índios têm que ser transportados por aviões.

É o caso da comunidade Serra do Sol, localizada na fronteira com a Guiana e a Venezuela, onde vivem os povos ingaricós e cujo acesso se dá exclusivamente por avião. A viagem dura 50 minutos. Com uma população de 1.400 habitantes, até pouco tempo eles eram nômades. Agora vivem em pequenas comunidades e têm que se adaptar à vida sedentária.

Os índios sofrem problemas de saúde decorrentes da falta de saneamento básico. “A doença que nós temos é a diarreia e o vômito, principalmente entre as crianças e os idosos”, relata o agente de saúde Romário Felipe Miguel que trabalha em um posto da comunidade, construído pelos próprios índios.

Ele conta que os médicos visitam a comunidade a cada dois meses e que os doentes mais graves dependem de deslocamento aéreo fornecido pela Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), ligada ao Ministério da Saúde.

Em função da mudança brusca nos hábitos, os índios encontram dificuldades para se adaptar ao novo modo de vida. A maioria deles só se comunica no idioma ingaricó e ainda está aprendendo a criar animais para a alimentação. “Hoje, a comunidade está em local fixo, por causa do posto de saúde e da escola. O acúmulo de pessoas no local gera doenças, pois não temos nenhum tipo de saneamento e de tratamento de água, [o que] requer o fornecimento de medicamento, presença de médicos e de enfermeiros”, conta o professor indígena Dilson Domente Ingaricó.

Para tentar solucionar o problema os índios estão buscando instalar um sistema de abastecimento de água encanada, mas novamente esbarram na dificuldade do acesso. "Estamos contando com o apoio da Força Aérea para transportar os canos até a comunidade e instalar o abastecimento de água", relata o professor ingaricó.


Edição: Tereza Barbosa

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