Rio de Janeiro pode sediar o quarto banco de pele do país

03/03/2013 - 18h23

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - O quarto banco público de pele do país poderá ser instalado na cidade. A indicação foi levada à Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil pelo vereador Marcelo Queiroz (PP), que está procurando também tratar o assunto com a Secretaria Estadual de Saúde. Ele disse que já tem reunião programada para a primeira quinzena de março com o secretário estadual de Saúde, Sergio Côrtes, para tratar do assunto.

Em entrevista à Agência Brasil, Queiroz explicou que a proposta tem caráter preventivo, já que o estado se prepara para receber megaeventos a partir deste ano, como a Copa das Confederações e a Jornada Mundial da Juventude. Atualmente, funcionam no país três unidades desse tipo, localizadas em São Paulo, Porto Alegre e Recife.

O vereador lembrou que, há um mês, quando ocorreu o incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), a pele usada para socorrer as vítimas de queimaduras foi fornecida pela Argentina. Segundo ele, enquanto o país tem apenas três bancos de pele, a Argentina, com uma população muito menor, tem o dobro. “E o Rio de Janeiro, com os megaeventos, precisa”.

Queiroz disse que o custo para a criação de um banco é menor do que preço dos medicamentos usados em vítimas de queimaduras. “A relação custo-benefício é muito cara”. O investimento estimado de infraestrutura de um banco de pele varia entre US$ 40 mil e US$ 55 mil, mais US$ 15 mil para manutenção mensal.

Marcelo Queiroz acredita na possibilidade de concretização da indicação porque ”já existe no orçamento de 2013 uma emenda orçamentária para um banco de pele no Hospital Souza Aguiar”. Para o vereador, com essa previsão dos recursos no orçamento, a discussão fica mais fácil. Ele destacou que o banco de pele representa economia em termos de internação de pacientes queimados.

“Porque uma pessoa que está sem essa pele nas queimaduras fica muito mais tempo no leito, [e isso] também gera custos”. Queiroz disse que estudos mostram que é muito mais vantajoso, além de mais humano, ter um banco de pele do que um doente mais dias internado. Para ele, a administração do banco de pele deveria ser de competência da prefeitura, uma vez que a captação de órgãos é feita pelo município e não pelo estado.

A chefe do Centro de Tratamento de Queimados do Hospital Municipal Souza Aguiar, Maria Cristina Serra, defendeu, em entrevista à Agência Brasil, a criação de mais bancos de tecidos em todo o país, com destaque para a captação de pele. “É fundamental”. Segundo a médica, um banco de pele “é um salvador de vidas”.

Maria Cristina informou que o Hospital de Força Aérea do Galeão (Hfag) teve um banco de pele que funcionou por um período curto de tempo, devido à dificuldade de captação. O médico Guilherme Miranda, da equipe de cirurgia plástica do Hfag, confirmou à Agência Brasil que a unidade está desativada.

A média explicou que o banco de pele é importante para auxiliar pessoas com queimaduras extensas de 70%, 80% do corpo. Nesses casos a cicatrização das partes lesionadas depende do enxerto de pele. “Com a pele, o aspecto das feridas vai ficar melhor”.

A pele queimada está sujeita a infecções, o que provoca a morte de 90% dos pacientes, disse a médica. Segundo ela, o tratamento correto é retirar a área queimada e cobrir com algum material, no caso, a pele. “Isso vai melhorar o paciente, vai melhorar a sobrevida, causa menos dor [e necessita de] menos curativos. Essa é a importância de trabalhar com banco de tecidos”.

O Centro de Tratamento de Queimados do Hospital Souza Aguiar foi um dos primeiros do país. Maria Cristina disse que está trabalhando na elaboração de uma estatística mais fidedigna dos queimados no país. Segundo ela, os dados disponíveis no Tratado de Queimaduras indicam que ocorrem mais de 1 milhão de casos de queimaduras por ano no país e, dos mais de 100 mil pacientes que procuram atendimento hospitalar, dois terços são crianças e adolescentes.

O Tratado de Queimaduras é considerado um livro de consulta ou de referência obrigatória para todo profissional envolvido com o tratamento de queimados. Sua primeira edição data de 2004.

A médica destacou que a falta de pele para os tratamento aumenta a permanência dos pacientes queimados nos hospitais. Segundo ela, no caso de queimaduras de terceiro grau, em que 90% do corpo apresentam lesões, não há como salvar o paciente.

Segundo Maria Cristina, a melhor pele é aquela retirada depois de declarada a morte do doador. “[Esse tipo de pele tem] a espessura certa, não sangra, e a qualidade de adesão é melhor”. Há casos, também, de doação entre pessoas vivas, como uma mãe que doa pele para um filho. Para queimaduras pequenas, há possibilidade de ser feito o autoenxerto, ou seja, retirar pequenas superfícies do próprio paciente.

Um dos grandes problemas que afetam as pessoas com queimaduras são as sequelas, disse a médica. Como se trata de pacientes de elevada complexidade, as equipes reúnem médicos plantonistas e da rotina, anestesistas, clínicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, enfermeiros e até fonoaudiólogos em alguns casos.

Edição: Tereza Barbosa

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