Duas exposições em Lisboa homenageiam fotógrafo brasileiro e contam parte da história do país

20/01/2013 - 14h11

Gilberto Costa
Correspondente da EBC

Lisboa – Duas grandes exposições fotográficas em Lisboa, com acervo da extinta revista O Cruzeiro, contam parte da história do Brasil entre os anos de 1940 e 1960. São cerca de 190 imagens feitas pelo fotógrafo piauiense José Medeiros (1921-1990), exibidas em edições originais da publicação e ampliadas em quadros nas exposições Crônicas Brasileiras e Rio É Uma Festa.

Rio É Uma Festa (título que remete ao livro Paris É Uma Festa, do escritor americano Ernest Hemingway) apresenta o Rio de Janeiro pré-bossa nova. Há cenas das paisagens urbanas, da praia, do carnaval e da vida noturna e também o contraste entre personalidades famosas em cenários requintados e figuras populares no cotidiano da cidade, ainda capital do Brasil. As fotos estão no espaço Bes Arte & Finança, no centro de Lisboa.

Os contrastes e matizes do Brasil além do litoral podem ser observados na exposição Crônicas Brasileiras. Com essas fotos, em exibição na Fundação Portuguesa das Comunicações, José Medeiros mostrou o interior do país à parcela letrada da sociedade brasileira, antes da televisão chegar ao país. São cenas dos índios do Xingu (MT) e dos retirantes nordestinos e da diversidade étnica e religiosa, como é o caso da foto-reportagem sobre uma cerimônia de iniciação ao candomblé na Bahia, publicada em 1951.

“O José Medeiros era maneiroso. Era tão bom que se tornou cineasta”, lembra Gervásio Baptista, fotógrafo decano da Agência Brasil, que trabalhou com Medeiros na redação de O Cruzeiro e o ajudou nos contatos com os pais e mães de santo para aquela reportagem. Baptista tem Medeiros como “ídolo” e o põe “ao lado do fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson” (considerado pai do fotojornalismo).

Para o curador das exposições Sergio Burgi, coordenador do departamento de fotografia do Instituto Moreira Salles, o acervo de José Medeiros em exibição em Lisboa mostra que a revista O Cruzeiro, publicada entre 1928 e 1975, tinha “uma qualidade que surpreende” e um patamar “muito próximo às revistas ilustradas daquele período”. Para ele, o veículo representava bem a época. “Estamos falando de um fenômeno de comunicação no Brasil que está ocorrendo simultaneamente em outros países no pós-guerra."

Segundo Burgi, as duas exposições de José Medeiros mostram os lados arcaico e moderno do Brasil e ajudam na reflexão sobre o país contemporâneo. “Isso é um legado de linguagem, mas também é um legado de registro significativo para entender o Brasil de hoje."

A opinião é compartilhada pela outra curadora das exposições, a historiadora francesa Élise Jasmin (na foto, ao lado de Burgi). Segundo ela, que é especialista em história do Brasil, “juntando as duas mostras temos parte do que foi o Brasil da capital [Rio] e no Brasil do interior”, diz sem revelar a preferência por nenhum dos dois acervos. “O conjunto representa o Brasil na sua diversidade. As fotos do Rio têm mais glamour, isso é sedutor; mas José Medeiros nunca abandona o elemento popular."

As duas exposições ficam abertas ao público até o dia 5 de abril. A entrada é franca. Os dois eventos fazem parte da programação do Ano do Brasil em Portugal.

Edição: Andréa Quintiere

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