Divergências em relatório da CPMI do Cachoeira adiam votação do texto para dia 18

11/12/2012 - 14h21

Karine Melo
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A sessão de hoje (11) da comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) que investiga as relações do contraventor Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários começou com questionamentos de parlamentares sobre o texto do relatório final que tem mais de 5 mil páginas. O documento deve ser votado na próxima reunião da comissão, marcada para terça-feira (18), às vésperas do término das atividades da CPMI, programado para o dia 22 de dezembro.

Deputados e senadores constataram que várias partes do texto ainda trazem referências ao indiciamento de jornalistas e ao pedido investigação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Esses capítulos foram retirados da primeira versão do relatório do deputado Odair Cunha (PT-MG) lida há duas semanas. Segundo o líder do PSDB, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), só o jornalista Policarpo Júnior, diretor da sucursal da revista Veja, em Brasília, continua citado em, pelo menos, 34 trechos do relatório.

Odair Cunha garantiu que houve um "problema técnico" e que vai fazer as correções no texto final, mas, diante do impasse, o presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), limitou os trabalhos de hoje à discussão dos chamados votos em separado – espécie de manifestação alternativa ao voto do relator – e às sugestões ao relatório final, que podem ser acatadas pelo relator. 

O voto separado do PPS, apresentado pelo deputado Rubens Bueno (PR), diz que ficaram de fora do relatório governadores que supostamente têm ligações com a quadrilha do bicheiro Carlinhos Cachoeira ou com a construtora Delta. Como Odair Cunha requer apenas a responsabilização política do governador de Goiás, Marconi Perillo, sem citar outros governadores, o voto pede que também seja investigada a atuação dos governadores Agnelo Queiroz (DF), Sérgio Cabral (RJ), Siqueira Campos (TO) e Silval Barbosa (MT).

"Supostamente envolvidos no escândalo, [eles] foram blindados pelas forças governistas. Os requerimentos de convocação foram sistematicamente rejeitados", diz um trecho do texto. O PPS também pede a investigação das empresas identificadas como fantasmas ou laranjas, suspeitas de lavagem de dinheiro e de participar do esquema de Cachoeira e da empreiteira Delta.

Outro voto em separado veio do líder do Democratas, deputado Onyx Lorenzoni (RS). Ele reclamou que muitas empresas “que teriam irrigado o esquema” ficaram de fora do relatório final.

Álvaro Dias destacou que o voto em separado do partido, de 898 páginas, diz respeito ao que não foi investigado pela comissão. “A comissão parou onde deveria começar, abdicou da responsabilidade de investigar”, disse. O parlamentar ressaltou ainda que detectou 18 empresas fantasmas que recolheram R$ 421,6 milhões a partir da Delta. Os recursos, segundo o senador, seriam para pagamento de propina como consequência de tráfico de influência. O voto em separado do PSDB também inclui pedidos de indiciamento de várias pessoas, entre elas, o do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, que está fora do relatório oficial.

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) também apresentou um voto em separado. Ao  ler o documento, ressaltou a necessidade de investigar a atuação da organização criminosa de Cachoeira no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
                                                                                                                                                   
A última manifestação como voto em separado veio do deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF). Ele defendeu a criação de uma comissão de deputados e senadores para acompanhar os desdobramentos das investigações do Ministério Público e da Polícia Federal a partir das conclusões da CPMI.

Ao todo, o relatório do deputado Odair Cunha acusa 41 pessoas: 29 foram indiciadas e 12, por terem foro privilegiado, foram responsabilizadas. Nesse último caso, caberá ao Ministério Público Federal analisar se haverá inquérito ou ação penal. Todos os listados são acusados de ter ligação direta com o esquema ilegal de Carlinhos Cachoeira, suspeito de comandar uma quadrilha ligada à exploração de jogos ilegais, envolvendo servidores públicos.

Cunha faz diversas recomendações para que o Ministério Público aprofunde as investigações e prepare as denúncias à Justiça. Na semana passada, Cachoeira voltou a ser preso após ser  condenado a 39 anos de prisão pela Justiça de Goiás.

Edição: Talita Cavalcante//Título alterado às 14h24 para corrigir informação//Informação do quarto parágrafo corrigida, às 21h35. O nome correto do governador de Mato Grosso é Silval Barbosa e, antes, estava grafado Sinval Barbosa