Comunidade mais pobre de Manguinhos pede remoção da beira de rio

14/10/2012 - 18h40

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – Os moradores da Comunidade Agrícola, considerada a mais pobre do Complexo de Manguinhos, na zona norte do Rio, pedem ajuda para deixar o local. Embaixo de um viaduto da Linha Amarela, à beira do Rio Faria-Timbó, eles aguardam que novas ações venham depois da ocupação policial de hoje (14), que vai resultar na instalação da 29ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).

São cerca de 250 pessoas habitando pequenos barracos de madeira, separados por apenas 0,5 metro de calçada do rio, onde o perigo para as crianças é constante, principalmente quando chove e a água ameaça invadir as residências. “Já entrou mais de 1,5 metro na minha casa. Nesses dias, fui mordida por um rato e precisei ir para o hospital tomar injeção”, contou Edinéia Rodrigues da Silva, que mora com os dois filhos à beira do rio.

“Isto aqui enche e aí os ratos saem. Minha casa não tem esgoto. É difícil criar as crianças, porque é um lugar muito contaminado. O meu filho vive machucado e resfriado”, reclamou a dona de casa Joice Santos Silva, que trabalha implantando cabelos em domicílio e tem dois filhos pequenos.

Enquanto o rio é problema para muitos, para outros é a solução. O catador Jéferson de Souza Lopes caminha ao longo do Faria-Timbó em busca de garrafas pet que recolhe e depois vende, a R$ 1 o quilo. "Por dia, consigo juntar uns 25 quilos", disse ele, fazendo seu trabalho, praticamente alheio à operação policial.

“Eu gostaria de receber ajuda para sair daqui o mais rápido possível. A gente está praticamente abandonado”, protestou Ricardo Vieira Gomes, que atua em obras, mas atualmente está trabalhando em um pequeno bar na comunidade.

“Eu vim do Rio Grande do Norte para a casa de um parente, que depois nos abandonou. Acabamos aqui  nesta invasão, onde já estamos há um ano e seis meses. Ficamos esquecidos por todos. Estamos em estado de calamidade, precisamos que as autoridades nos ajudem, nos paguem um aluguel social ou nos coloquem em um apartamento do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]”, pediu Robério Raimundo da Silva, que trabalha como vigilante de banco.

“Eles falam de pacificação, mas também não é só isso. Tem que retirar as pessoas daqui, para viver uma vida digna. As crianças ficam todas por aí, no meio da rua e do esgoto e nada é solucionado”, reclamou a manicure Dayse de Souza.

Para a costureira Rosimere Conceição Vitória, a dificuldade maior é conseguir água para beber, que ela apanha em uma bica. "Quando chega o verão não cai um pingo", disse ela.

Um dos casos mais graves é o da aposentada Maria das Neves Félix de Lima, operada recentemente de um câncer na boca e que habita um pequeno barraco embaixo do viaduto. “Eu ganho um salário mínimo de aposentadoria, mas nem todos os remédios recebo de graça. Alguns tenho de comprar, quando dá muita dor, e não tenho dinheiro”, lamentou Maria das Neves, com dificuldade para falar.

O líder comunitário Rogério Araújo da Silva ajuda os moradores da Comunidade Agrícola com o projeto social Alimentando Uma Esperança, instalado na Favela Varginha, também ocupada pela polícia. Ele ajuda a mobilizar os moradores em busca de melhorias e oferece serviços e aulas de informática.

“O projeto começou com moradores de rua e dependentes químicos e agora se estendeu para a comunidade. Eu dou banho, corte de cabelo e roupas limpas. Agora, estou buscando ajuda com parceiros para oferecer cursos profissionalizantes e de inglês. Com a pacificação, eu penso que o governo vai começar a olhar para o lado de cá, para esse povo que estava abandonado e a mercê de tantos riscos.”

Edição: Graça Adjuto