Famílias afetadas por incêndio em favela de São Paulo passam a noite em galpão

24/08/2012 - 17h22

Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – O terceiro incêndio em menos de oito dias em favelas paulistanas deixou mais 163 famílias desabrigadas, cerca de 600 pessoas, segundo informações da Defesa Civil do município. O fogo consumiu ontem (24), no início da noite, quase todos os barracos localizados na Rua Capitão Pacheco Chaves, no bairro Vila Prudente, restando apenas 400 metros quadrados dos 2,8 mil que formavam a comunidade.

As famílias afetadas passaram a noite em um galpão da escola de samba do bairro e hoje (21) pela manhã ainda aguardavam kits de emergência que seriam fornecidos pela prefeitura, como colchões, cobertores e cesta básica.

A Defesa Civil informou que, após avaliação de engenheiros, o local continuará interditado por apresentar riscos aos moradores. Por volta de meio-dia, algumas pessoas foram liberadas pela Polícia Militar para entrar o local e retirar móveis e eletrodomésticos que resistiram ao fogo. A perícia esteve na comunidade pela manhã, mas não informou a causa do acidente.

Giovânio Queiroz da Silva, de 23 anos, estava em casa com a esposa e o filho de apenas dois meses de idade, quando o barraco de madeira foi rapidamente tomado pelas chamas. “Só deu tempo de salvar nosso filho e pegar uma maleta com os documentos”, relembra. A família de Giovânio abrigou-se na casa de parentes, mas ele permaneceu local para aguardar orientação da prefeitura. “Assim que o local for liberado, vou reconstruir nossa casa, mas o ideal é que a gente nem precisasse voltar pra cá”, relatou.

As famílias que se abrigaram no galpão reclamam a falta dos kits de emergência que normalmente são distribuídos pela administração municipal nesses casos. “Estamos recebendo doações de supermercados próximos daqui e moradores de comunidades próximas vieram cozinhar pra gente. Ainda estamos aguardando uma ajuda do governo”, relatou a moradora Bruna Bezerra, de 22 anos, que fugiu do fogo com dois filhos, de 2 e 3 anos.

O mesmo drama foi vivenciado na sexta-feira (17) passada por moradores da favela do Areão, nas proximidades da Ponte dos Remédios, na Marginal Pinheiros. A Agência Brasil retornou ao local hoje e constatou que os alicerces das novas casas já estão sendo implantados pelos moradores no mesmo local. “Não temos pra onde ir. Por enquanto, a gente fica na casa de amigos e parentes, mas precisamos reconstruir nossas casas”, disse a dona de casa Damiana da Silva, de 37 anos.

A doméstica Sônia Gomes da Silva, de 47 anos, conta que o material para reerguer sua casa foi todo doado pela igreja que frequenta. “Não recebemos nenhuma ajuda. Tudo que temos é doação de parentes, irmãos da igreja ou empresas”, relata. A alimentação dos moradores desabrigados está sendo providenciada por vizinhos, que preparam três refeições diárias. “Precisamos nos ajudar”, disse a moradora Ana Dirce dos Santos, de 52 anos, que está à frente da ação.

As dificuldades levaram os moradores do Areão a recriarem, na última terça-feira (21), a associação comunitária. “Para além do incêndio, temos muitas dificuldades e precisamos nos organizar. Não queremos sair daqui, mas precisamos de melhores condições de vida. Tem esgoto a céu aberto e muitas crianças circulam por este local”, relata Ana Dirce.

A Agência Brasil entrou em contato com a prefeitura de São Paulo para repercutir as queixas dos moradores das duas favelas citadas, mas até a publicação da reportagem não recebeu retorno.

Até o dia 14 de agosto, a Defesa Civil tinha registrado 24 grandes incêndios em favelas de São Paulo este ano. Os incêndios são alvos, inclusive, de investigação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Incêndios em Favelas da Câmara Municipal de São Paulo. Instalada em abril, a comissão investiga as causas e responsabilidades sobre os incidentes, que movimentos sociais e lideranças comunitárias dizem ter origem criminosa.

Segundo o Corpo de Bombeiros, entre 2007 e 2011 ocorreram 262 incêndios em favelas da cidade de São Paulo. Na maior parte dos casos, não foi possível determinar a origem do fogo porque os inquéritos policiais não são conclusivos. Os dados fazem parte das informações recebidas pela CPI dos Incêndios em Favelas.

Edição: Davi Oliveira