Olimpíadas: Atenas usou Vila Olímpica para projeto social de habitação

28/07/2012 - 12h22

Akemi Nitahara*
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Destinado desde o início a moradores de baixa renda, o projeto da Vila Olímpica de Atenas pode ser considerado um modelo de sucesso e um dos grandes legados das Olimpíadas de Atenas, em 2004.

As 2.500 moradias construídas nos arredores de Parnitha, a noroeste de Atenas, foram entregues para trabalhadores de baixa renda inscritos em programas de moradia do governo. Com prédios de quatro e cinco andares, em uma área de 1 milhão de metros quadrados, o local hoje abriga 10 mil moradores.

O engenheiro Iones Csipolitos, da Fundação Hellenic Olympic Properties, explica que as moradias foram construídas pelo Ministério do Trabalho e destinadas às pessoas que tinham feito inscrição no programa social. De acordo com ele, a maior parte dos apartamentos tem três quartos e cerca de 100 metros quadrados.

“O programa desde o início foi esse, ser destinado a habitação de trabalhadores, da casa do trabalhador. Embora fosse destinado ao programa social, foi construído em muito boas condições, com materiais muito bons, não como de modo geral a construção destes programas sociais é feito”.

De acordo com a vice-prefeita para Assuntos Internacionais de Atenas, Sophie Daskalaki-Mytilineou, a Vila Olímpica foi um dos principais benefícios para a população de Atenas.

“As obras podem ser separadas da seguinte maneira: primeiro o país tem que preparar a sua infraestrutura, as estradas, as ferrovias, os transportes rodoviários, o aeroporto, e, por outro lado, também os estádios, que devem ser modernos e de fácil acesso. Além disso, foi criada a Vila Olímpica, que, depois, cerca de 2.500 casas foram entregues a trabalhadores de baixo nível de rendimento ou a desempregados”.

Revitalização - Sophie explica que a prefeitura também promoveu, na época, um programa de embelezamento das praças e estradas, além de um programa de incentivo para renovação das fachadas dos prédios e casas.

“A prefeitura entrava com um percentual desse custo, de 30% a 40%, o restante era pago pelos proprietários. Houve, neste período, a renovação de cerca de 3 mil fachadas em pontos centrais da cidade e o programa continuou após as Olimpíadas, chegando a 5 mil”.

Outro legado para a cidade, segundo Sophie, foi a revitalização do centro arqueológico, com o Partenon e o Estádio Panathinaiko - onde ocorreram os primeiros Jogos da Era Moderna, em 1896 -, a renovação da frota de ônibus, a construção do Aeroporto Internacional Eleftherios Venizelos, da linha do bonde e do metrô, que enfrentou diversos problemas.

“Temos o problema das antiguidades da cidade, a cada metro que se cava descobre-se uma cidade antiga abaixo da cidade nova, então o serviço de arqueologia teve que enfrentar muitos problemas burocráticos e também de construção por parte dos engenheiros. Se não houvesse essa premência dos Jogos Olímpicos, pode ser que a construção do metrô demorasse mais”.

Manutenção - O secretário-geral do Ministério da Cultura e Turismo para a Utilização Olímpica, Yannis Pyrgiotis, destaca também os investimentos em infraestrutura, o avanço tecnológico das redes de energia e telecomunicações. Como conselho para o Brasil, Pyrgiotis diz que Atenas errou em fazer instalações esportivas muito grandiosas.

“Depois, eles não vão saber o que fazer com aquilo e como manter a limpeza, a guarda. Então, pela nossa experiência, talvez seja melhor fazer coisas temporárias. Ainda que o custo seja muito grande, maior do que o da construção permanente. É melhor fazer isso, porque se você levar em consideração o custo de manutenção a longo prazo. Não vale a pena”.

Conselhos - Apesar de ter cedido algumas instalações olímpicas para investidores particulares, Atenas ainda gasta cerca de 15 milhões de euros por ano com a manutenção dos equipamentos esportivos. Valor que não é alcançado com o aluguel dos espaços.

De acordo com Pyrgiotis, a Fundação Hellenic Olympic Properties foi criada imediatamente após o término dos Jogos Olímpicos para que fosse feito um programa de utilização comercial, social e política dos equipamentos esportivos. Para ele, foi tarde demais.

“Devia ter sido feito antes das construções, para que já se tivesse em mente o que deveria fazer. O quanto mais cedo fizer essa programação para as instalações após o término dos jogos, tanto melhor será para vocês. O Brasil vai sofrer uma grande pressão de vários fatores e em todas as cidades olímpicas existe a ideia de que todos os problemas vão se resolver com os Jogos Olímpicos. É preciso que haja uma hierarquia das necessidades, não se pode satisfazer a todo mundo”.

Para a taxista brasileira Kátia Regina Paravatos, que já estava na Grécia durante as Olimpíadas, a população teve benefícios com os Jogos, mas os gastos foram muito altos.

“Ajudou muito porque agora a gente está usufruindo tudo isso que ficou de infraestrutura. Acho que valeu a pena, mas por outro lado, foi um gasto muito grande que, eu acho, a Grécia não estava preparada”.

Crise grega -Para alguns analistas, de acordo com a BBC Brasil, os gastos com as Olimpíadas de 2004 foram o começo da crise econômica da Grécia. O custo anunciado de 8,9 bilhões de euros, além de ser o dobro da estimativa inicial, foi o mais alto de todas as Olimpíadas da história moderna, até então.

Em 2004, a Grécia era o segundo país mais pobre da União Europeia e a economia fechou com déficit de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB). A dívida pública subiu, naquele ano, para 98,6% do PIB. E chegou, em 2010, a 144,9%.

Outro fator que pesou no custo de realização dos jogos de 2004 na Grécia foi a preocupação redobrada com a segurança, já que eram as primeiras Olimpíadas realizadas apos os ataques de 11 de setembro de 2001.

*Colaborou Beatriz Arcoverde, repórter do Radiojornalismo
*As entrevistas foram feitas em Atena, em abril de 2010.

Edição: Fábio Massalli