América Latina tem dificuldade de identificar setores de valor agregado na hora de produzir tecnologia, diz Cepal

25/07/2012 - 16h43

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Os países latino-americanos ainda não encontraram uma vocação sustentável para o desenvolvimento tecnológico e não sabem com clareza quais segmentos da economia agregam mais valor e que, portanto, devem ser mais bem explorados. O diagnóstico é da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), que, na semana passada, realizou, em El Salvador, um seminário sobre tecnologias de informação e comunicação (TICs) e o desenvolvimento produtivo na região.

Para a comissão, a produção de novas tecnologias traz o desafio de não agravar a desigualdade da América Latina e do Caribe e não marcar ainda mais a heterogeneidade de condições competitivas entre setores inovadores, considerados “ilhas de excelência”, e setores tradicionais com atividades básicas.

“Um dos principais desafios enfrentados pela região para alcançar a modernização da produção e da inovação tecnológica é geralmente o alto nível de heterogeneidade. Na América Latina e no Caribe convive um setor muito pequeno que incorpora tecnologia moderna e compete em pé de igualdade com empresas do mundo desenvolvido e o mundo emergente, e uma grande área com a incorporação de poucos recursos de tecnologia e inovação. Esses fatores explicam o grande atraso do crescimento da produtividade observado na região”, avaliou Sebastian Rovira, oficial de Assuntos Econômicos da Divisão de Produtividade e Gestão da Cepal .

De acordo com Rovira, a heterogeneidade torna difícil identificar quais segmentos de mercado podem ser mais bem explorados. “Alguns países têm espaço para avançar no desenvolvimento de novos combustíveis e energia, outros nas indústrias criativas. Alguns podem se posicionar no turismo e outros como melhores produtores de alimentos”. Rovira destaca que é possível associar esses setores às TICs, biotecnologia, nanotecnologia e criação de novos materiais.

Ele também defendeu que haja avanço na produção de commodities (produtos primários com cotação em bolsa de valores, como soja e minério de ferro) que incorporem mais valor agregado, “de modo a facilitar o surgimento de novos setores que exigem conhecimento e empregos qualificados”.

Para o oficial da Cepal, a vocação tecnológica poderá ser encontrada com políticas industriais focalizadas e articuladas com a política de ciência, tecnologia e inovação. Como exemplo, ele cita os fundos setoriais existentes no Brasil desde 1999, que servem como fonte para o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a para a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Conforme a Cepal, o Brasil aplica 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa e inovação, o dobro do percentual verificado no restante do continente latino-americano.

Entre os cientistas brasileiros, no entanto, o percentual do investimento em pesquisa é criticado. Na abertura da 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorre durante toda a semana em São Luís, a presidente da entidade, Helena Nader, reivindicou o investimento de 10% do PIB em educação e a partilha de 50% do Fundo Social, formado por recursos obtidos com a exploração de petróleo na camada pré-sal, para investimentos em educação e ciência e tecnologia.

Edição: Lana Cristina