Nelson Rodrigues é retratado por meio das próprias palavras em exposição em São Paulo

24/06/2012 - 15h17

Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - Amor, bondade, hipocrisia, canalha, adúltera,  racismo e fome são algumas das palavras que se espalham pelo chão para receber o visitante da Ocupação Nelson Rodrigues. As expressões foram escolhidas entre as mais usadas nas crônicas e peças do dramaturgo e jornalista. A mostra ficará aberta até o dia 29 de julho no Itaú Cultural, na Avenida Paulista, região central da capital.

A essência da mostra é retratar Nelson a partir da visão do próprio artista. “Por meio do que escreveu e do que falou em depoimento e entrevistas sobre ele e sua obra. O que pensava da sociedade, da carreira jornalística, da carreira dramatúrgica, da relação com a família, as memórias” explica a assistente de curadoria e diretora do audiovisual da exposição, Sonia Muller.

Todas as tragédias e desilusões presentes nas suas obras eram, para Nelson, apenas um reflexo da realidade. “Ele não inventou a tristeza, o homem é triste porque nasceu. Ele não inventou a angústia”, explica Sonia, sobre o pensamento do autor. Apesar disso, o dramaturgo inseria nos textos a punição que nem Deus, nem a lei conseguia jogar sobre os homens. “Ele diz que as peças dele são o único lugar onde o ser humano paga pelos seus pecados”, ressalta.

Por outro lado, Nelson, conhecido pelo teor erótico de muitas obras, tinha um apreço especial pelo tema amor. “Ele fala sobre a importância do amor, que o ser humano precisa amar e que o sexo pelo sexo era a desgraça do homem. O homem que fazia sexo sem amor era um desgraçado”, conta Sonia, ao destacar os assuntos que atraíam a atenção do autor.

Outro tema que mereceu atenção especial do escritor foi o preconceito. “Muito cedo percebeu quão ruim e nefasta é a injustiça, isso é muito presente na obra dele. O racismo, a homofobia, ele lidava com esses temas porque conseguia enxergar o ser humano”, explica a diretora.

“O pai dele, como jornalista, denunciava o preconceito racista contra as classes populares, contra a classe artística, o preconceito religioso”, acrescenta Sonia, ao comentar como a família ajudou a moldar o escritor. As relações familiares são, inclusive, um capítulo à parte da ocupação. “Nós fomos a Pernambuco e entrevistamos pessoas ligadas à família e parentes que ficaram lá. Uma família unida e que permitia que cada um pudesse desenvolver os seus talentos e se afirmar como indivíduo autônomo e crítico”.

Edição: Graça Adjuto