Redução de estimativa de déficit nas contas externas é reflexo da crise internacional, diz BC

22/06/2012 - 14h48

Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A redução da projeção para o déficit nas contas externas no Brasil, anunciada hoje (22) pelo Banco Central (BC), reflete efeitos da crise econômica internacional. A estimativa para o saldo negativo em transações correntes, que registra as compras e vendas de mercadorias e serviços, passou de US$ 68 bilhões para US$ 56 bilhões.

Um dos itens mais relevantes dessa conta que afetaram essa revisão são as remessas de lucros e dividendos. A estimativa para essa variável passou de US$ 38 bilhões para US$ 28 bilhões. De acordo com o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, isso ocorre devido à moderação da atividade econômica no país, o que leva à menor geração de lucro. Além disso, segundo ele, a taxa de câmbio em patamar mais elevado encarece o envio de recursos para o exterior, o que desestimula a remessa.

Nos cinco meses do ano, as remessas líquidas de lucros e dividendos (envio de recursos ao exterior maior que o recebimento) chegou a US$ 8,444 bilhões, 42% menor do que o registrado ante igual período do ano passado (US$ 14,704 bilhões). Apenas em maio, essas remessas líquidas ficaram em US$ 2,55 bilhões.

Outro efeito, para o Brasil, da crise econômica internacional é a menor demanda por produtos e serviços. A balança comercial, formada por exportações e importações, registrou superávit de US$ 3,468 bilhões, em maio, e acumulou US$ 20,958 bilhões, nos cinco meses do ano. A projeção de superávit comercial para o ano caiu de US$ 21 bilhões para US$ 18 bilhões.

No cálculo das transações correntes está também a balança de serviços (viagens internacionais, transportes, aluguel de equipamentos e outros). Nesse caso, a projeção do BC para este ano passou de US$ 42,1 bilhões para US$ 39 bilhões. A balança de serviços registrou déficit de US$ 3,713 bilhões, no mês passado, e de US$ 16,36 bilhões, de janeiro a maio.

Na conta de rendas (remessas de lucros e dividendos, pagamentos de juros e salários), houve resultado negativo de US$ 2,988 bilhões, em maio, e de US$ 12,007 bilhões, no acumulado até o mês passado. Nesse caso, a previsão do BC foi alterada de US$ 49,6 bilhões para US$ 37,9 bilhões.

As transferências unilaterais correntes (doações e remessas de dólares que o país faz para o exterior ou recebe de outros países, sem contrapartida de serviços ou bens) registraram ingressos líquidos de US$ 281 milhões, no mês passado, e US$ 1,137 bilhão, de janeiro a maio. A previsão para o ingresso líquido este ano foi ajustada de US$ 2,7 bilhões para US$ 2,8 bilhões.

Além desses efeitos, com a crise, o BC também espera redução nos empréstimos para empresas brasileiras no exterior. A expectativa da instituição é que as empresas façam apenas rolagem de vencimentos, sem tomar recursos novos. Segundo Tulio Maciel, no ano passado, a taxa de rolagem estava acima de 400%, ou seja, as empresas não somente rolaram os vencimentos, mas também tomaram novos recursos. Já a expectativa para essa taxa, neste ano, passou de 125% para 100%.

"É natural esperarmos um fluxo menor este ano haja vista que as empresas estão capitalizadas”, disse Maciel. Ele acrescentou que a projeção para o ano é “conservadora”.

Edição: Juliana Andrade // Matéria alterada às 16h34 para acréscimo de informação