Diversidade toma conta do Aterro do Flamengo com o comércio paralelo da Cúpula dos Povos

19/06/2012 - 18h59

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – Bem longe dos debates da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, a Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo, tem reunido milhares de pessoas, entre brasileiros e estrangeiros, desde a última sexta-feira (15). São vários os eventos da Cúpula, mas a mistura fica mesmo perceptível na feira informal de produtos ao ar livre.

À margem da principal passagem que corta a cúpula, vários grupos e artesãos estenderam tendas ou lonas onde expõem uma diversidade de produtos no chão. É possível ver de tudo: brincos e colares de pedras, de penas, de sizal, utensílios para cozinha, pinturas para quadros, além de livros de diversos grupos religiosos como os de Hare-Khrishna e de comunidades alternativas.

Os mais exóticos, que chamam mais a atenção, são os produtos indígenas, que dominam a área próxima à Plenária 2. Dezenas de índios pataxós, da Bahia, expõem colares de sementes coloridas, arcos e flechas, cocares, apitos e uma série de outros produtos que variam entre R$ 10 e R$ 400. Cobras em potes com formol e até pássaros também fazem parte do que é comercializado.

Em uma pequena lona estendida no chão, o índio responsável pelos potes, pajé Tobi, identificado como sendo da etnia Tupi-Guarani, da Amazônia, também vende infusões para emagrecer, para má circulação e inchaço nas pernas, que, curiosamente, são embaladas em Guapamirim, no Rio. Segundo o pajé, ele é um “índio andarilho”, que vive da venda de seus produtos pelo Brasil.

Outro grupo que chama a atenção é o da organização não governamental (ONG) Green Collar, de Taiwan. À beira da calçada, eles trocam suas camisetas com a de instituições brasileiras. Em cinco dias, já se foram 150. “Mas não é só a troca pela troca, queremos pegar contatos e trabalhar junto com outras ONGs”, explica o representante da Green Collar, Juju Wang.

Fazendo bastante barulho, um grupo de estudantes da Universidade de Brasília (UnB) usa um jingle próprio para vender picolé de frutas do cerrado. “Os mais pedidos são de cajuzinho do cerrado, cagaita e bacuri”, conta a estudante de pedagogia Marcela Nunes. O grupo, de cerca de 100 pessoas, quer cobrir os custos do translado do Alto da Boa Vista e alimentação, com a venda dos picolés.

Às margens da Praia do Flamengo, com vista para um dos principais cartões-postais da cidade, o Pão de Açúcar, na Cúpula dos Povos também não é difícil encontrar índios encantados com a paisagem. Kawire, da etnia Ikpeng, de Mato Grosso, conta que não resistiu e, mesmo sabendo que a praia não tinha a melhor balneabilidade da cidade, arriscou um mergulho.

“É, tem muito lixo. Mas é diferente. A gente fica mais pesado, não afunda e deixa a gente com sal”, revelou sobre seu primeiro banho de mar. “Tô acostumado a ver isso aqui pela TV. Agora que estou aqui, mesmo vendo a sujeira, quis entrar”, completou Ikpeng.

Quem ainda não se atreveu ao mergulho no mar foi um grupo de Angola. Chefiando uma delegação de cerca de dez educadores ambientais, Januario Augusto diz que está feliz só de olhar para as belezas da orla do Rio. “De manhãzinha, todo os dias, eu faço aqui [no calçadão] uma caminhada, um treinamento, para ajudar na manutenção [da boa forma]”, relatou.

Acompanhe a cobertura multimídia da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) na Rio+20.

Edição: Lana Cristina