Demóstenes diz que Gurgel precisa se explicar pela falta de providências sobre o inquérito da Operação Vegas

29/05/2012 - 17h06

Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Ao depor hoje (29) no Conselho de Ética do Senado, o senador Demóstenes Torres (sem partido - GO) disse que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, incorreu no crime de improbidade administrativa ao não ter tomado providências em relação ao inquérito da Operação Vegas, da Polícia Federal (PF).

Na opinião de Demóstenes, Gurgel teria três opções ao receber o inquérito. "Ele tinha que oferecer denúncia, arquivar ou pedir mais diligência. Ele não fez nada disso", disse o senador.

"As atribuições do procurador são obrigatórias. Ele e nenhum membro do Ministério Público podem dizer: ‘não vou atuar aqui ou vou atuar aqui’", observou Demóstenes que enfrenta processo de cassação no Conselho de Ética. "Se não tinha indício nenhum de crime, então ele teria que pedir arquivamento", reforçou o senador.

O inquérito foi entregue pela PF ao Ministério Público, em 2009. Ao ser acusado de não ter tomado providências com relação à investigação, por pelo menos dois anos, Gurgel argumentou que decidiu aguardar a conclusão da Operação Monte Carlo, realizada pela PF depois da Operação Vegas.

A argumentação do procurador, na opinião de Demóstenes, não faz sentido. "Ele deveria, então, controlar isso [as investigações] até determinado ponto", disse. "Mais dia, menos dia, o procurador-geral vai ter que explicar o que aconteceu. A atitude dele é totalmente desarrazoada e não tem amparo jurídico."

Segundo Demóstenes, ele está sendo vítima de uma ação orquestrada para desmoralizá-lo e acusou o Ministério Público e a PF de fazer parte disso. "Há um conluio entre a Polícia Federal e o Ministério Público Federal para fazer uma investigação ilegal.”

O senador é suspeito de ligações estreitas com o empresário goiano Carlos Augusto de Almeida Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, investigado pelas duas operações realizadas pela PF. O empresário está preso desde o dia 29 de fevereiro, acusado de ligação com jogos ilegais e de comandar uma rede de influência envolvendo agentes públicos e privados.

O processo disciplinar por quebra de decoro contra Demóstenes, no Conselho de Ética do Senado, investiga a suspeita de que ele teria usado seu mandato para beneficiar o esquema comandado pelo empresário.

Em seu depoimento ao conselho, que durou cinco horas e meia, o senador informou ainda que conheceu Cachoeira quando exercia o cargo de secretário de Segurança Pública de Goiás, entre os anos de 1999 e 2002, durante o primeiro governo de Marconi Perillo (PSDB), atual governador do estado. Na época, Cachoeira tinha exclusividade na exploração do jogo em Goiás e pedia, segundo o próprio senador, para que o governo atuasse na repressão aos demais exploradores.

Apesar disso, Demóstenes sustentou que não sabia que Cachoeira mantinha atividades ilegais. "Se eu soubesse ontem o que sei hoje, não seria assim. Não sabia que ele operava clandestinamente e, ainda em conversa com o governador [Marconi Perillo], ele disse à gente que não operava clandestinamente", relatou Demóstenes.

O relator do processo no Conselho de Ética, senador Humberto Costa (PT-PE), lembrou da atitude crítica de Demóstenes em 2004, ocasião em que foi divulgado vídeo no qual o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz aparece pedindo propina a Cachoeira. "Acredito que tanto quem pede quanto quem entrega é corrupto. O senhor foi tão duro na suas colocações e o fez muito bem em relação ao Waldomiro Diniz. Disse que ele era um bandido. Por que não a mesma atitude em relação a Cachoeira?", perguntou Costa.

"Posso não ter nominado, mas não deixei de ter criticado a situação", respondeu Demóstenes que informou ainda que recebeu um telefone celular via rádio de Carlinhos Cachoeira e disse que era o empresário quem pagava a conta do celular. “Cachoeira pagava as contas. Coisa de R$ 50 a R$ 30, imagino eu", disse Demóstenes.

Utilizando um tom emocional, Demóstenes mostrou-se abalado e disse que ficou um mês sem comparecer ao Senado por falta de coragem de encarar os demais senadores. "Nunca sofri tanto na minha vida, sou um homem de vergonha na cara. Fiquei sem entrar no Senado um mês para não ter que olhar na cara dos meus colegas senadores", destacou.

Edição: Lana Cristina