Millôr era vanguardista que ria do poder e de si mesmo

28/03/2012 - 18h35

Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil

O riso marcou toda a obra de Millôr Fernandes, a começar pelo próprio nome, um caso humorístico de erro cometido por um tabelião – o Milton se tornou Millôr, com acento circunflexo, porque o traço do “t” foi parar em cima do “o” e o “n” ficou parecido com um “r” . A afirmação é do escritor Henrique Rodrigues, mestre em literatura brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e autor de uma dissertação sobre a obra do escritor: Millôr Fernandes: a vitória do humor diante do estabelecido.

Segundo o pesquisador, Millôr Fernandes consolidou uma forma humorística de se enxergar a realidade, sobretudo de forma crítica e irreverente, “no sentido de não se curvar, não prestar reverência ao pensamento cristalizado”. Na avaliação de Rodrigues, o escritor carioca, que morreu hoje (28), aos 88 anos, no Rio, mostrou em sua obra novas formas de se colocar diante da realidade, “em vez de se submeter a ela, rir dela e rir de si mesmo”.

Outro traço marcante da obra literária de Millor Fernandes, de acordo com Henrique Rodrigues, foi seu caráter vanguardista. “Ele fazia poemas concretos, antes de existir o movimento concretista. Ele já escrevia de forma concisa e em frases curtas muitos anos antes de existir o computador e ferramentas como o Twitter. A própria irreverência do Pasquim, do qual foi um dos fundadores, foi antecedida pelo Pif-Paf, uma coluna de humor político e contestatório que ele mantinha na imprensa”.

O pesquisador lembra que, enquanto esteve na ativa como humorista, todos os presidentes da República foram caricaturados por Millôr, tanto no desenho quanto na escrita. “Não só o poder político, como o poder da Igreja e o próprio poder da linguagem. Ele sempre se colocou ao lado, como se dissesse 'vocês não são tão sérios assim'”, ressalta Rodrigues.

Edição: Fábio Massalli