Pacotão não poupa críticas a políticos e à imprensa

19/02/2012 - 17h24

Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Se não quiser ser citado pelo humor ácido e escrachado do Bloco Pacotão, não seja político, ou não se envolva em escândalos. Do contrário, será mais um personagem do bloco sujo, dos mais antigos de Brasília, que desde 1978 reúne foliões que brincam embalados pela crítica política, a ironia e a irreverência nas ruas da capital.

Na crítica da Sociedade Armorial Patafísica Rusticana Dër Pakoton, pomposo nome oficial da agremiação, não interessa partido político. O importante é criticar quem está no poder e quem luta por ele. Sobram deboches ao governo, à oposição, à imprensa, aos integrantes do Poder Judiciário e a parlamentares. "A imprensa é a oposição. O resto é armazém de secos e molhados", diz uma das faixas.

A fama de “faxineira” da presidenta Dilma Rousseff e a sucessiva queda de ministros suspeitos de envolvimento com atos corruptos foram temas preferidos de quatro canções do bloco. “Lá vem a vassourinha da Dilma. Varrendo o lixo pra debaixo do tapete. Tem rato pra todo lado. A Esplanada está virando um banquete”, diz uma das canções.

As desastradas declarações feitas pelo ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi, quando ocorreu o escândalo na pasta, viraram um prato cheio para o bloco. “Ninguém vai impedir a minha fala. Só saio se for à bala”, diz uma das músicas. Outra se refere à “declaração de amor” de Lupi para Dilma. “Ai Dilminha, eu juro que te amo, gatinha”.

O Programa Minha Casa, Minha Vida também foi tema como um apelo de alguém que quer casa para poder se casar. “Dilma, eu quero me casar. Eu não tenho casa pra morar. Já não posso viver só de promessa. Minha Casa, Minha Vida é o que interessa”, diz um dos sambas do bloco.

O espírito crítico do bloco, formado principalmente por jornalistas, vem do período da ditadura militar. Em 1977, o então presidente da República Ernesto Geisel, lançou um conjunto de leis para alterar as regras das eleições. As mudanças ficaram conhecidas como “Pacote de Abril”. O nome do bloco parte da ironia às mudanças lançadas por Geisel. No ano seguinte ao pacote, o bloco surgiu desfilando sempre pela contramão da Avenida W3, na época uma das principais áreas de comércio de Brasília.

Na crítica a administração do Distrito Federal, o governador Agnelo Queiroz é acusado, principalmente, de demorar a mostrar serviço. Isso lhe rendeu o apelido de “Agnulo”. Já a faixa no alto do caminhão de som lembra sua gestão na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e as denúncias de desvio de recursos do Programa Segundo Tempo, coordenado pelo Ministério dos Esportes, que já foi gerido pelo atual governador. “Agnulo anvisa: no segundo tempo o negócio vai pegar”.

Nesse ano, também não faltaram no desfile do bloco opiniões sobre o embate de magistrados com Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão acusado de quebrar sigilo bancário de juízes por causa da divulgação de movimentações financeiras atípicas de servidores, incluindo juízes. Para a presidenta do CNJ, Eliana Calmon, o bloco ostentou um apoio bem escrachado: “Eliana Calmon, seu santo é *”, expressava uma das faixas dispostas no alto do caminhão de som.

A aprovação da proposta de iniciativa popular que criou a Lei da Ficha Limpa também foi um dos temas tratados pelo bloco. Muitos foliões com cartazes comemoraram a ratificação da lei feita pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na semana passada.

Um dos cartazes fazia um anúncio da “Lavanderia Brasil” estabelecimento que usa o sabão em pó STF que, para os foliões “limpa ficha suja”.

Até a reforma ortográfica, que passou a valer em janeiro de 2009, não escapou do humor do Pacotão. “Reforma ortográfica: nunca trema em cima da linguiça”, destaca o bloco em uma das faixas.
 

Edição: Rivadavia Severo