Para representante dos arquitetos do Rio, nenhuma hipótese foi capaz de explicar, até agora, o desmoronamento dos edifícios

26/01/2012 - 15h47

Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - O presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) do Rio de Janeiro, Sydnei Menezes, está perplexo com o desmoronamento de três edifícios no centro do Rio de Janeiro, ontem à noite. Segundo ele, não havia sinais de que as edificações pudessem cair. “O prédio não teve nenhum movimento pendular, não inclinou para cima ou para os lados. Ele simplesmente desmoronou e levou com ele os outros prédios, colados em divisa. Houve uma ruptura violenta, um colapso fulminante da estrutura. Esse desabamento foi um fato inédito. A maneira como ocorreu, sob o ponto de vista técnico, é realmente algo assustador”.

Com relação às hipóteses mais prováveis para explicar o acidente, Sydnei Menezes fez alguns esclarecimentos à Agência Brasil. Considera que se a causa tivesse sido vazamento de gás, uma possibilidade praticamente descartada, haveria uma explosão muito violenta, com muito barulho, o que não ocorreu.

Quanto à possibilidade de uma reforma interna no prédio ter atingido alguma estrutura, tese defendida por engenheiros que acompanham o caso, ele preferiu ser cauteloso. “Quando se mexe nas estruturas de um prédio para reformas internas, a própria estrutura reage, dá sintomas de fadiga. Você vê, por exemplo, trincas, portas emperradas, janelas fora do prumo, vidros quebrados. Há todo um prenúncio dos sintomas de um colapso estrutural, e disso também não se tem registro”, explicou.

Sidney Menezes alertou para o fato de que nem o CAU, nem o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) tem registro de qualquer profissional técnico responsável por obras em algum dos no prédios que desabaram. “Se for constatada a existência de uma obra, ela estaria sendo feita fora dos procedimentos regulares e legais, sem o acompanhamento técnico de um profissional, seja da arquitetura ou da engenharia.

Com relação a uma instabilidade do terreno onde os prédios foram construídos, uma área de charco que foi aterrada, o arquiteto explicou que a hipótese é improvável. “Os demais prédios do entorno não foram abalados, o próprio Theatro Municipal, que é uma obra iniciada no governo do prefeito Pereira Passos, em 1904, não sofreu nenhum abalo”.

Ele também considerou improvável a possibilidade de o desabamento ter sido uma consequência de obras do metrô feitas na década de 1970 (a Linha 1 passa sob a Avenida 13 de Maio). “Para que isso ocorresse, teriam que haver sintomas, como rachaduras."

Localizado no número 44 da Avenida 13 de Maio, o Edifício Liberdade foi construído há 70 anos. Segundo o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio, era um prédio de estrutura arquitetônica de concreto armado, tecnologia usada na época e presente em centenas de edifícios do mesmo período no Rio de Janeiro. “Estamos solicitando as plantas orginais do prédio, não sei se vamos conseguir, por ser muito antigo, mas precisamos de todos esses elementos para chegar a uma conclusão”, disse.

Para Menezes, o acidente não deve suscitar preocupação com relação a outros edifícios antigos do centro da cidade. “A questão da antiguidade não compromete, porque todos foram construídos com uma tecnologia da época, mas absolutamente correta do ponto de vista técnico”.

O arquiteto acha, no entanto, que a região do centro do Rio onde ocorreu o desabamento merece cuidados especiais, pelo seu rico patrimônio arquitetônico e cultural. “A área marcada pelos prédios do Theatro Municipal, da Biblioteca Nacional, da Câmara Municipal e do Museu Nacional de Belas Artes é uma das mais bonitas do mundo, do ponto de vista arquitetônico”, assegura.

Edição: Vinicius Doria