Família recebe restos mortais de hispano-venezuelano morto pela ditadura militar brasileira

12/12/2011 - 20h30

Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – O restos mortais do hispano-venezuelano Miguel Sabat Nuet, morto sob tortura em 1973 pelo sistema de repressão da ditadura militar, foram entregues hoje (12) à sua família. Os três filhos vieram da Venezuela para participar da solenidade em que receberam a urna com as cinzas de Nuet. A ossada encontrada em escavações no cemitério de Perus, zona norte paulistana, foi cremada, a pedido dos filhos, na semana passada.

A ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, falou em nome do Estado brasileiro. “A devolução dos seus restos mortais à família significa resgatar diante da família o seu lugar de pai”, ressaltou a ministra em entrevista após o ato.

Segundo Maria do Rosário, esclarecer a verdade sobre os desaparecimentos ocorridos no período ditatorial é uma obrigação do Estado com as famílias. “É o que o Estado brasileiro quer fazer com cada uma das pessoas que foram torturadas e desaparecidas”.

Para a procuradora Eugênia Augusta Gonzaga, que participou das buscas, o caso é o que mais “expõe” a ditadura, porque mostra que o regime também matava pessoas inocentes. Não existem registros nos arquivos da repressão ou qualquer relato da participação de Nuet na oposição à ditadura.

Para Miguel Sabat Dias, filho de Nuet, talvez a ligação do pai dele com a Teologia da Libertação, corrente de pensamento da Igreja Católica, tenha influenciado na prisão de Nuet. Ele destacou, no entanto, que o mais importante é saber a verdade sobre a morte do pai. “O que nos importa é que possamos esclarecer a memória de nosso pai, porque desconhecíamos os fatos”, ressaltou.

Os agentes do governo brasileiro à época informaram a família que Nuet havia se suicidado na prisão. Versão em que sua filha Maria del Carmen, nunca acreditou. “Eu sabia que ele, por seus princípios religiosos, não tinha se suicidado”. Os filhos pretendem dispersar as cinzas de Nuet nas montanhas próximas a Barcelona, na Espanha, lugar que Nuet frequentava quando criança.

 

Edição: Rivadavia Severo