Ocupações de favelas no Rio são avanço, mas têm limitações, segundo especialistas

14/11/2011 - 19h24

Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A ideia de que as ocupações policiais em favelas do Rio de Janeiro dominadas pelo tráfico devem acabar com a violência é fantasiosa e produz um efeito nocivo de mascarar a realidade da cidade, segundo especialistas. Na opinião de Marcelo Burgos, professor e coordenador da área de sociologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, as ocupações são “avanço” no domínio territorial, mas têm limitações.

“Um diagnóstico mais realista não significa desaprovação à UPP [Unidade de Polícia Pacificadora], mas, sim, colocar essa política no plano em que ela realmente precisa estar. Tem que se deixar claro que a UPP é um avanço, mas tem suas limitações”, disse Burgos.

As ocupações de favelas por forças de segurança pública, como a que ocorreu na Rocinha, ontem (13), e nas 13 favelas que formam o Complexo do Alemão, na zona norte da cidade, no início do ano, fazem parte da estratégia do governo de dominar os territórios do tráfico. No entanto, esbarram na impossibilidade de se ter uma política universalizada de segurança e que produza efeitos a logo prazo, ressalta Burgos.

De acordo com o professor, esse diagnóstico sobre a função das UPPs (unidades de Polícia Pacificadora) é importante para que não se ignore os demais fatores geradores de violência. “Por ter um caráter focado no território, elas desconsideram o aumento do conflito e da brutalidade em outros pontos da cidade, como a zona oeste, e da região metropolitana, como Baixada Fluminense.” Além disso, acrescentou, a migração de traficantes é desconsiderada. “O que vemos são ocupações em determinadas áreas e pessoas sendo atingidas por balas perdidas e morrendo, no mesmo dia, em outras comunidades.”

Burgos compara a UPP a uma imobilização para curar uma fratura, um “gesso” que terá que produzir transformações nas comunidades ocupadas em determinado tempo . “A UPP é como gesso. Durante um determinado tempo, esse policiamento ostensivo assegura um ambiente mais pacífico. Mas se esse processo de ocupação não ocorrer, significará a desmoralização das UPPs. É preciso ter consciência de seu caráter emergencial.”

Para Michel Misse, professor de sociologia e antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor do Núcleo de Estudos em Cidadania, Conflito e Violência Urbana (Necvu) da UFRJ, essas modificações precisam significar ganhos sociais para a população. Caso contrário, enfatiza, não haverá mudança no quadro de violência do Rio de Janeiro. “Essas áreas precisam ser integradas à cidade como bairros. Para isso, é necessário abrir avenidas. Isso leva à necessidade de se fazer desapropriações e de se pagar indenizações corretas para os moradores que serão obrigados a sair de suas casas.”

Misse se mostrou cético em relação à disposição do governo em ampliar esses ganhos. “Pelo que o governo tem feito em relação às famílias desapropriadas nas aberturas de avenidas para obras de mobilidade urbana, com vistas à Copa do Mundo e às Olimpíadas, não tenho visto disposição em fazer isso. São desapropriações malfeitas que têm gerado conflitos. O governo não paga um valor justo para realocar essas famílias. Em algumas áreas isso tem gerado conflito.”

O professor da UFRJ também destaca a necessidade de políticas de formação para jovens moradores das favelas. “Além de entrar com policiais, é preciso ter políticas profissionalizantes para jovens, como as que já existem em determinadas comunidades, tocados pelo governo ou mesmo por organizações não governamentais [ONGs]”.

Edição: João Carlos Rodrigues