Cardiologistas e anestesistas de Belém suspendem cirurgias não emergenciais

06/10/2011 - 18h33

Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil

Brasília – A insatisfação de cardiologistas e anestesistas de Belém levou-os a cancelar a realização das chamadas cirurgias eletivas, aquelas agendadas com antecedência por hospitais públicos municipais e particulares. Embora distintas, as mobilizações de cardiologistas e anestesistas têm motivações comuns: reivindicações financeiras.

Segundo a Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas no Estado do Pará, os cerca de 130 profissionais que atendem a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), em 16 hospitais da capital paraense, interromperam suas atividades porque querem que a Secretaria Municipal de Saúde libere R$ 1,2 milhão que deixou de pagar desde junho deste ano. A cifra equivale à soma dos valores que a secretaria deveria ter pago a título de complementação ao que é pago pelo SUS por procedimentos cirúrgicos e ambulatoriais. Os anestesistas também exigem que a secretaria renove o contrato com a cooperativa, vencido desde janeiro deste ano.

“Estamos tentando negociar com a secretaria desde janeiro, mas o pessoal vem cozinhando a gente. Como estamos trabalhando há quatro meses sem receber [a complementação], os médicos estão preferindo trabalhar em outros locais, atendendo a clientes de outros convênios. Por isso, decidimos suspender o atendimento dos procedimentos eletivos e só atender às urgências e emergências”, comentou o presidente da cooperativa, Luis Paulo Mesquita.

Após admitir que a suspensão dos serviços está afetando o atendimento hospitalar na rede pública, a secretaria municipal encaminhou à Agência Brasil nota em que diz que providenciará parte do pagamento dos valores atrasados “o mais breve possível”.

Já os cardiologistas decidiram suspender as cirurgias eletivas marcadas por usuários do Plano de Assistência dos Servidores Estaduais (PAS), o segundo convênio em número de usuários no estado. Embora a suspensão prejudique a usuários de todo o Pará, na prática, atinge apenas aos da capital. Isso porque, no estado, cirurgias cardíacas só são realizadas em Belém, onde cinco hospitais particulares atendem ao convênio dos servidores estaduais. Os 14 profissionais em atividade na capital aderiram ao movimento.

De acordo com o presidente da Cooperativa dos Cirurgiões Cardiovasculares do Pará (Coopercardio), Alberto Mauro Anijar, desde o ano passado a categoria tenta negociar com o Instituto de Assistência dos Servidores do Estado do Pará (Iasep) a correção dos valores pagos por procedimentos cirúrgicos realizados por intermédio do PAS. De acordo com Anijar, a tabela de honorários usada pelo instituto está em vigor desde 1992.

Ele disse ainda que o instituto paga cerca de R$ 1,5 mil por uma cirurgia cardíaca de ponte de safena, valor que é dividido entre a equipe que, em geral, chega a sete pessoas. Além disso, a equipe recebe não apenas pela cirurgia, mas por todo o procedimento que, da internação ao pós-operatório, dura, em média, dez dias. De acordo com Mauro, o SUS paga cerca de R$ 3 mil pelo mesmo serviço, mas com o valor complementar pago pela Secretaria Municipal de Saúde, o ganho pode chegar a R$ 5 mil.

“Nós não paramos totalmente o atendimento. As urgências e emergências e os pacientes que estavam previamente agendados, que já tinham o procedimento autorizado pelo plano, estão sendo operados”, disse Anijar à ABr, reforçando que a suspensão afeta apenas os procedimentos eletivos, como cirurgias de cardiopatia congênita, de válvula, revascularização do miocárdio, entre outras situações em que o quadro do paciente é considerado estável. De acordo com o médico, em média, 15 usuários do PAS são submetidos a cirurgias cardíacas eletivas mensalmente.

Em nota, o Iasep garantiu que, ontem (5) e hoje, as cirurgias cardíacas foram realizadas normalmente. Quatro hospitais de Belém aceitam o convênio para esse tipo de procedimento: Saúde da Mulher, Porto Dias, Hospital do Coração e Beneficente Portuguesa. O Iasep informou à ABr que o reajuste dos honorários só pode ser feito com base em um estudo que avalie a viabilidade financeira do instituto e a defasagem do valor pago ao prestador de serviços, no caso, o hospital credenciado. Além disso, o reajuste deve ser analisado e aprovado pelo governo estadual e pela Assembleia Legislativa.

Edição: Lana Cristina