Excesso de liquidez na economia mundial recomenda melhoria na gestão da conta capital dos países em desenvolvimento

24/08/2011 - 19h19

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - O cenário de expansão da liquidez na economia mundial, sinalizado pelos Estados Unidos e pela Europa, impõe aos países em desenvolvimento a melhoria da gestão de sua conta de capital. O assunto foi tema de consenso no seminário encerrado hoje (24), no Rio de Janeiro, sobre Gestão da Conta de Capital e Regulação do Setor Financeiro, promovido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas (Undesa), na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

As discussões avançaram no sentido de que “seria importante os países melhorarem a gestão no seu sistema financeiro e, também, conectar a gestão da conta capital”, disse o diretor de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais do Ipea, Marcos Cintra.

Ele destacou que o Brasil tem seguido esse modelo, desde dezembro de 2010, ao adotar as medidas chamadas macroprudenciais, para diminuir a exposição dos bancos em moeda estrangeira e em derivativos em moeda estrangeira. Isto significa “ampliar a regulação no sistema financeiro doméstico e conectar com a gestão da conta de capital, ou seja, da entrada e saída de dinheiro”.

Cintra esclareceu que não se trata apenas da existência de uma liquidez muito grande no mercado internacional. Segundo ele, há, na verdade, uma conexão cada vez maior do sistema financeiro doméstico e internacional. “Tem que gerir as duas coisas”.

Para o economista, o maior impacto nos países em desenvolvimento de uma liquidez excessiva na economia mundial ocorre na taxa de câmbio. “Porque, com essa avalanche de capitais internacionais, você tende a valorizar a taxa de câmbio e isso tem impacto na competitividade das exportações”, disse.

Segundo Cintra, alguns setores industriais estão perdendo a competitividade devido não só à apreciação do real, mas também à elevada taxa de juros, ao custo Brasil, a problemas de logística. “A chamada balança comercial do setor industrial já é muito negativa no Brasil. O que está garantindo o superávit da balança comercial brasileira é o agronegócio, são as commodities”, declarou.

A situação é, porém, contraditória, ressaltou. Ao mesmo tempo em que as commodities contribuem para aumentar as exportações e a renda dos produtores, elas têm impacto sobre a inflação. Um reflexo é sobre os fundos de investimento que estão muito líquidos e aplicam em commodities buscando rentabilidade, o que leva os preços para cima e afeta o mundo inteiro.

No caso do Brasil, Cintra lembrou que o governo adotou em julho passado várias medidas sobre o mercado de derivativos, introduzindo o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas posições líquidas. A taxa começa a ser aplicada a partir de outubro próximo com percentual de 1%, podendo chegar até 25%. “Será um aprendizado que o governo brasileiro, junto com o setor privado, terá que fazer”, disse. Ele estima que a medida dará ao governo a dimensão dessas posições de derivativos.

 

Edição: Aécio Amado